segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Na escuridão da noite.

Era uma noite sombria na cidade. Caminhando pelas ruas vazias, em plena madrugada. procurava andar o mais rápido que pudesse, estava tomado pelo medo. Vi no jornal que assassinatos misteriosos estavam acontecendo em bairros próximos de onde me encontrava. Enquanto me certificava que as chaves de casa estavam no meu bolso, ouvi gritos e pedidos de socorro vindo de um beco próximo a mim. Parei para ouvir com maior atenção. Não havia absolutamente ninguém por perto. Tremendo, mas tomado pelo medo, cruzei a rua e olhei o beco.

Uma pessoa encontrava-se ali. Pelo menos, acredito que fosse uma pessoa, embora não parecesse ser humana. Olhava para mim e sorria. Minhas pernas congelaram e imediatamente pensei que estaria perdido. O vazio da noite aos poucos preenchia não só meu corpo, mas a minha alma também. A fraca luz de um certo poste piscava loucamente enquanto a pessoa que ali se encontrava caminhava ao meu encontro. Tomado por um medo absurdo, consegui correr. Corri sem olhar para trás, deixando a noite e a pessoa para trás.

O simples olhar daquilo me faz tremer até hoje, quando tenho que - - - - -

- Alô? É do departamento de Polícia?

- Sim. No momento só estamos atendendo emergências.

- É uma emergência, tem um garoto no corredor do meu apartamento, ele não pára de sorrir para mim... é... é... macabro. Policial? Está aí?

- - - - - - - - - - - - - - - -

- - - -

- - - - - - - -- - - - - - --

Prisioneiro da Memória

Paro um minuto e percebo a rotação do mundo em minha volta. Olhando com atenção os detalhes que todos esses anos não me chamaram muita atenção. Enquanto isso, percebo que já não pertenço ali. Naquele dia, estava junto de alguns amigos, mas ao mesmo tempo, estava tão distante quanto qualquer um deles pudesse imaginar. Lentamente, ia me desligando de tudo, era como se fosse puxado contra a minha vontade para um lugar entre o real e o ficticio. De fato, tudo levou segundos, o suficiente para olhar uma última vez para minhas jovens mãos. Lisas, sem efeito do tempo.
Em poucos segundos, encontro-me olhando novamente para as minhas mãos envelhecidas, enquanto ouço um barulho irritante. Me pergunto o por quê de tudo aquilo. Afinal, eu estava curtindo minha adolescência minutos atrás. Agora cá estou, me sentindo velho e inútil, com uma dor de cabeça intensa seguindo cada movimento de meus olhos.
- E então, amigo, como está a cabeça ? - pergunta um homem que não obteve sua resposta.
Me levanto lentamente da câmara de onde estava deitado e pergunto :
- Para onde me trouxeram ? Quem são vocês ? - assim como o homem, não obtive a minha resposta.

Na vida, aprendemos basicamente tudo através da experiência. Com ela, aprendi que toda minha vida não passava de uma mentira. Um filme do passado que assistia por aquela câmera, revivendo minhas memórias através de minha mente. Memórias há muito esquecidas que jamais retornariam. Me pergunto até hoje se a guerra era tão importante quanto as memórias de um velho desesperado para viver.

Enquanto olhava pela janela, via os prédios em chamas e as pessoas sorrindo. Fomos ordenados no dia 13 de janeiro que todos deviam seguir para o teleportador que seria destruido em breve. Para isso, alguém teria que ficar. Um emissário do governo estava mais do que disposto de realizar o serviço. Quando o último civil foi devidamente teleportado, prestei um favor a mim mesmo e enviei o emissário. Destruí o teleporte pelo bem dos jovens que ali habitavam e segui ignorando os gritos inimigos na porta. Simplesmente caminhei em busca da câmara de memórias e a programei para onde estava.

No momento em que minha mente estava novamente sincronizada com meu jovem corpo, vi meus amigos sorrindo uma última vez, todos juntos me chamando. Seria a última vez que veria tais rostos familiares.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lua De Segunda-Feira

Era uma segunda-feira monótona. Geralmente, todas as segundas são monótonas, pelo menos na minha opinião, são sim. Não é o fato de ser apenas mais um dia na semana que a torna chata e cansativa, mas sim por marcar o início de uma semana de trabalho. Em minha cabeça, todas as segundas são chatas, embora essa segunda, em especial, foi deveras desagradável.

Para relatar meus acontecimentos diários, devo comentar brevemente sobre minha vida. Me chamo Thomas Rickett e fiz trinta e um anos há mais ou menos um mês, minha vida era completamente normal. Quando estudante, tive três namoradas até o terceiro ano, vivia cercado por amigos e amigas, saía para beber nos finais de semana e ainda mantinha minhas notas na média.

Nunca simpatizei com a segunda-feira. Simboliza - e ao mesmo tempo canaliza- toda a minha preguiça e desapego com a sociedade. De fato, finjo não existir às segundas. Para quebrar a rotina, tive uma segunda-feira diferente do padrão, me reuni com um velho amigo de minha idade, porém gordo e rico, chamo ele de Hurley (embora não seja o verdadeiro nome dele... ele se chama Bill, mas Hurley é nome de gordo). Conversamos sobre coisas comuns, sabe, aquelas conversas de amigos que não se vêem há muito tempo.

-Como vai no trabalho ?
-Já encontrou a garota perfeita ?

Falei de minha condição financeira - que estava ótima, por sinal -. Ganhava muito bem e trabalhava apenas três dias por semana. Algum tempo depois, Hurley estava indo embora em seu luxuoso carro. Eu resolvi ficar mais um pouco e conversar com uma moça simpática que estava em outra mesa.

Horas mais tarde, estava indo deixá-la em casa, tive que descer para tomar um "cafézinho", afinal, não faria uma desfeita de tomar um segundo café com uma moça tão simpática (e gostosa). Pensava que essa quebra de rotina, tornou a minha segunda-feira um dia menos chato, mas já anoitecia e quando cerca de três homens armados abordaram meu carro. O sequestro em si durou mais umas duas horas e meia, os bandidos foram gentis e simpáticos; recebi belos elogios, desde um "cala a boca, seu vagabundo ! " e até mesmo o doce "Saia da porra do carro, seu filho da puta !"

E lá estava eu, sozinho no meio do mundo, sem noção de direção, sem lenço nem documento em meio ao relento, com a boca sangrando de alguns socos, mas nada mais. Caminhei tranquilamente rumo ao desconhecido, amaldiçoando toda e qualquer segunda-feira que o mundo já concebeu. Enquanto caminhava, em meio ao nada, rezava para encontrar um telefone qualquer, só para fazer alguns telefonemas básicos, sabe, daqueles que você faz quando precisa de ajuda.

Minha jornada solitária levou-me ao encontro de um velho posto de gasolina. Me perguntava se já era terça, pois parecia que caminhava há horas, se não séculos. Esse posto de gasolina era bem comum mesmo, sabe ? daqueles onde você encontra um velho caipira chato atrás do balcão, que se acha o dono do mundo porque tem um par de óculos escuros, e advinha só ? em plena madrugada eles estão usando esses óculos sob a fraca luz de uma lâmpada fluorescente velha, como se fossem algum ator de hollywood ou algo do tipo.

Pedi gentilmente pelo telefone, e após relatar toda essa desagradável situação ao caipira, tive acesso a um. Primeiramente, liguei para a minha esposa. Sim, sou um cara casado e você deve estar me achando um filho da puta porque hoje mesmo, traí minha esposa umas duas vezes com uma mulher diferente. Não que eu me importe em esclarecer, mas meu casamento estava desabando há dois anos, ou seja, desde quando começou; e eu sentia necessidade de mulheres mais belas que a minha, não que ela fosse feia, de jeito nenhum, acredito que ela seja a mais bela dentre todas as outras mulheres com quem dormi ou sequer conheci, mas o gênio dela me irrita.

Ao telefone, fui sincero, admiti meus erros e falhas e após muito choro do outro lado da linha, ela disse que me procuraria. Eu era um sujeito rico e não sabia para onde levar a minha vida. A palavra sinceridade nunca combinou comigo, creio que não combina com ninguém. Visto que nós, homens, temos que mentir o tempo inteiro para conquistar garotas e consequentemente faturar umas ou outras, nesse lado da vida, sempre me dei bem.

Apesar de não fazer idéia de onde estava, fui encontrado por Júlia, minha querida esposa. Estava ao seu lado, em seu carro, ouvindo um suave sermão de minha amada esposa, enquanto ela parava e começava a soluçar e perguntar por que eu era assim, depois ela começava a chorar incansávelmente novamente. Naquele momento, me sentia o homem mais cobiçado do mundo, embora também me sentisse um monstro sem sentimentos que acaba de destruir o coração de uma pessoa tão gentil.

Após chegar em casa, acalmar minha amada esposa, tomar um banho quente e deitar-me ao seu lado, pus me a chorar, feito uma criançam esmo, pensando nos péssimos momentos que passei, não apenas nessa segunda, mas em todas as outras segundas que vivi e nas que iria viver. Segundas-Feira monótonas. Júlia olhou para mim e disse :

- Paciência, todos temos um dia ruim em nossas vidas.

Em troca de suas belas e simples (para não dizer clichês) palavras, nos abraçamos e eu adormeci. No dia seguinte, estava ocupado demais sendo um bom marido para ir trabalhar. Resumindo a história, repensei sobre minha vida e meus atos, e a partir da segunda-feira seguinte, mudei meu estilo de vida, chamo isso de ponto de amadurecimento, alguns precisam de um dia ruim para aprender que era uma pessoa ruim, e assim aconteceu comigo.


Licença Creative Commons
Lua De Segunda-Feira de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.






quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vou-me Embora pra R'lyeh


Vou-me embora pra R'lyeh
Lá sou servo do Cthulhu
Lá tenho a sacerdotiza que eu quero
No pilar que escolherei



Vou-me embora pra R'lyeh
Vou-me embora pra R'lyeh
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive



E como farei ginástica
Andarei de barco
Montarei em peixe brabo
Subirei no templo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do oceano
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra R'lyeh



Em R'lyeh tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone telepático
Tem alcalóide à vontade
Tem escravas bonitas
Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou servo do Cthulhu —

Terei a sacerdotiza que eu quero
No pilar que escolherei




-Reescritura de Vou-me embora pra Passárgada - Manuel Bandeira- por Davi Abath
Licença Creative Commons
Vou-me embora pra R'lyeh de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

Sobre Versos e a Liberdade Poética.


O que pensa a natureza
Quando te vê passar ?
Contempla tua beleza
Com vontade de te encontrar.

Seus olhos quando brilham
Ensinam as estrelas como se brilhar.
Tão radiante alegria,
Motiva os pássaros a cantar.

Ao sorrir, brotam flores
Nos mais vastos campos,
Mórbidos, sem cores.

Infinitos versos sem rima
encontram e alucinam
a salvação que anunciam
monstros gritam e se soltam
chacoalham e esnobam
tudo com desejo de me chamar.

Não vou, não fui, cá estou
em meio a liberdade mais um ponto sou
somos, fomos
inexistentes momentos que marcam a trajetória
sem volta
em volta
de nada.

Sobre versos e liberdade, criar, descriar
atualmente, não existem regras,
basta rimar.

Não há ritmo. Não há ritmo. Há uma pedra no meio do caminho.



Licença Creative Commons
Sobre Versos e Liberdade Poética de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

Fim

Início
















Meio
















Fim.


Enquanto ainda houver um pequeno traço de luz, haverá sombra. Enquanto houver trevas, estou seguro; ao mesmo tempo, acorrentado como um prometeu, aguardando diariamente a dor de ser devorado vivo, enquanto minhas entranhas regeneram-se lentamente e são destruídas rápidamente. Hoje, olhar para a frente é mais importante do que olhar para trás, isso hoje. Amanhã é diferente, me vejo em meio a um turbilhão de mudanças, um vórtex coberto de rostos e pessoas perdidas em tempo-espaço. Afinal, não há morte, não há tempo; apenas momentos. O fim não existe, mas existe, depende do meu ponto de vista.

Licença Creative Commons
Fim de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

domingo, 24 de outubro de 2010

Evolução


A história que contarei agora aconteceu há alguns milênios.

O Planeta em que vivemos, era antes habitado por répteis (acho que você já ouviu falar dos dinossauros, sim, aqueles animais gigantes que produziam rugidos temerosos e foram extintos com a queda de um meteorito ou sei lá o que). O fato é que os dinossauros eram na verdade seres pensantes, pelo menos os que tem ligação com o répteis; eles eram uma enorme população e foram criados por seres que viveram há alguns milênios atrás também, vamos chamá-los aqui de deuses.

Os deuses criaram os dinossauros, assim como também nos criaram alguns milhões de anos depois da extinção jurássica. Esses seres soberanos, após a criação da Terra, sofreram algum contato com a radiação que o centro do planeta exala e desenvolveram certas habilidades. Desde manipular a matéria, ao que chamamos hoje de levitação e teletransporte; os deuses não morriam de forma natural, ou seja, não morriam com a velhice. Após o desenvolvimento da sociedade jurássica, os deuses ficaram abismados como as criaturas que criaram puderam evoluir tão rápido e já estavam se tornando uma ameaça, por causa das armas que desenvolveram e da população que formaram. Os deuses demoravam cerca de cem anos para reproduzirem, era um processo doloroso e lento, o que fazia com que eles evitassem a reprodução.

Os dinossauros governavam sobre uma espécie de império, mas seu imperador era controlado pelos deuses, que só pediam que fossem, de certa forma, venerados. Certo dia, um jovem dinossauro, decidiu enfrentar um deus e estimular os seus companheiros a lutar contra o sistema e elaborarem um governo própriamente deles, assim os dinossauros poderiam moldar o mundo a sua volta. Em um duelo intenso, nosso amigo dinossauro assassinou esse deus tirano, o que causou uma imensa comoção e os deuses entraram em guerra com os reptilianos (sim, era assim que chamavam-se os dinossauros). Nesse meio tempo, os deuses dizimaram toda a espécie jurássica e ficaram sozinhos no planeta (as plantas e animais não-pensantes os acompanhavam, claro, mas estes não podiam venerá-los). Em meio ao tédio, eles decidiram criar uma nova espécie racional, mas desta vez, a sua imagem e semelhança, chamariam-no de Homem.

Isso aconteceu muito tempo após a extinção dos dinossauros. Mas quando criado, o homem provou ser obediente, seu raciocinio demorou muito para desenvolver-se e logo alcançou uma população razoavel de sua comunidade, essa é a parte chata dessa história, daremos um avanço de 500~700 anos para escapar da mesmice.

Quando os homens organizaram-se em uma comunidade, eram milhares, não, bilhares amontoados na mesma região, onde tudo que ele tocava, destruia-se. Continuavam venerando os deuses e pela quantidade, era extremamente satisfatório. Quando surge um jovem homem revolucionário, a fim de separar o território para que o mundo em que viviam fosse mais organizado, decide então eliminar de fato os deuses. Comoveu uma boa parte dos homens, e em desvantagem, os deuses pereceram. Sim, amigos, nossa espécie eliminou a raça que nos criou, embora ainda hoje alguns sejam venerados, saibam que, por nós foram destruídos e por nós ressucitados, embora isso não venha ao caso.

Na atualidade, o homem encontrou seu substituto, os computadores. Seu corpo possui funções semelhantes ao funcionamento do corpo humano, ao que parece. Resta-nos esperar o chamado da evolução e enfim lidar com a dor da troca, da substituição. Falo isso porque hoje, temos que nos esconder das máquinas e os poucos que sobreviveram vivem miseravelmente, lutando por alimentos e apenas aguardando o momento onde a raça humana deixará de existir. Envio essa minha história para vocês, do passado, para compreenderem a mentira que vivem e quem sabe mudar nossa realidade, dependemos de vocês.

Anônimo 29/12/2193


* Essa história é puramente ficticia, o autor sequer concorda com as idéias citadas acima. É de fato fruto da imaginação do autor e responsabilidade da imaginação do leitor. Também não se importa com sua posição religiosa, crenças ou o que quiser chamar. *




Licença Creative Commons
Evolução de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com.

sábado, 23 de outubro de 2010

Refúgio de quem sonha





E então resolvi dormir. Não importa quanto tempo, sem me importar com ninguém, sem me lembrar de ninguém, deles, delas e tudo mais. Dormir além do tempo, deixar de vez esta realidade e transportar minha mente para onde sequer os sábios sabem ao certo, trocá-la por um lugar onde possa ter controle de tudo e todos. Talvez me encontre onde as fendas ocultas do tempo possam me levar, diferentes dimensões em meio a realidades paralelas, com ou sem você, nós, já não importa mais.

Um lugar onde uma pequena mudança causa uma reviravolta radical no meio, uma sensação traz consigo todas as outras, uma corrente inquebrável de lapsos incoerentes de razão. Se quiser, pode me acompanhar, não garanto ser o mesmo no lugar onde pretendo ir. Lá, alfa e ômega nada significam, reviverei minha infância enquanto vasculharei a minha memória, farei o que não fiz e no final de tudo acordarei completamente só, no escuro do meu quarto.

Paro dois minutos e penso em como retornar, como fazer para retornar a comodidade de um mundo simples, porém complexo e ficticio; despeço-me de lá, já com saudades, enquanto meus olhos adaptam-se a escuridão. Tenho a certeza de que um dia hei de retornar para esta realidade onde tu me esperas, acompanhado com a incerteza de que tudo, talvez seja diferente.

Licença Creative Commons
Refúgio de quem sonha de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Primeiras Impressões

Tudo começou quando a minha ex partiu, oito anos juntos e de repente, ela se foi. Agora cá estou com uma novinha, bem jovem mesmo; me sinto indiferente, nessa idade e com essa jovem comigo. De fato, o relacionamento andou rápido, com minha ex demorou cerca de três meses para acontecer pela primeira vez, após isso, repetia-se casualmente.

Em dois dias, estava eu diante dela, preparado para fazer o serviço, ainda indignado por ter acontecido assim, tão rapidamente. Lá estava ela, linda e aberta para mim, apenas para mim; pela primeira vez em sua vida - disso tenho certeza -. Toquei-lhe as partes sutilmente, recuando um pouco quando emitiu um estranho barulho. Garanto-lhe que fui cuidadoso, não fiz nada de errado, afinal, não era a primeira vez que o fazia.

Após o ocorrido, três dias depois fiz tudo novamente. Até que de repente, seu brilho extinguiu-se e sua luz interior apagou. Cinco dias, de fato, um relacionamento curto, essa é a tendência, produtos descartáveis mantém o ciclo econômico balanceado, alguns chamam de juventude, eu chamo de capitalismo. Passei oito anos com minha ex, em três meses, em média, era preciso trocar os cartuchos de tinta. Com essa nova impressora, porém, em três curtos dias esgotou-se toda e me deixou. Maldita modernidade.

Licença Creative Commons
Primeiras Impressões de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

E assim Infinitamente...

Abrem-se as portas do paraíso, o ciclo renova-se novamente e assim temos um novo morador. Um senhor, 80 anos, viveu uma vida politicamente correta, sem extravagâncias. Todos os dias levantava cedo, fazia suas orações e caminhava pela casa enquanto o café não estava pronto. Era casado há uns 40 anos com uma senhora que sempre fora vaidosa, jamais perdera elegância. Na juventude, ela tinha longos cabelos castanhos e era cobiçada por todos.

Já ele, nunca fora ninguém. Sempre calado, parecia estar sofrendo em silêncio, isso na juventude, claro. Em sua fase adulta realizou grandes feitos, ganhou muito dinheiro, construiu um império. Não era religioso, ninguém era... apenas algumas raras exceções importavam-se, mas a garota de cabelos castanhos e os belos olhos de ressaca importava-se. Em vida, não colecionou muitos amigos, mas os que teve valiam muito mais do que os muitos que tinham... em sua adolescência, convivia com a falha idéia de ser mais um desconhecido da turma empenhando-se para se dar bem e um dia, quem sabe sair da anônimidade. Enquanto ela, sua esposa, era cercada de amigos e amigas -que já não mantêm contato- e notas regulares, vivendo uma vida cômoda com direito a TV, cinema e festinhas.

Na sua maturidade, tinha uma vida tranquila, conseguia o que queria facilmente e assim infinitamente podia seguir o fluxo do passar dos anos enquanto contemplava o correr das águas do tempo. Até quando casou-se e formou uma família, um casal de filhos que hoje já são adultos. Conservou até hoje, dia de sua morte, as memórias mais marcantes e momentos que proporcionaram os dias mais felizes de sua vida. Se soubesse naquela época que casaria justamente com aquela garota, talvez as coisas não tenham sido como foram, não saberia o que fazer e assim infinitamente a vida seguiria outro fluxo sequer parecido com o que seguiu.

Pela manhã, ela levantou-se primeiro e lavou o rosto no banheiro, deixando seu marido dormir mais um pouco, pois apesar de não revelar, aparentava-se cansado nos últimos dias, embora não tivesse falado nada a respeito, ela o conhecia e sabia que desde os tempos em que foram colegas de sala, ele sempre costumava guardar os detalhes para si. Após enxugar o rosto, olhou rapidamente para o marido e saiu. Lembrando do quanto eram diferentes e de como não se conheceram melhor antes, acreditando que na época, ele era uma das pessoas mais estranhas de sua classe, ambos tinham diferentes modos de ver o mundo, ela jamais preocupara-se com o futuro enquanto ele temia o que o esperava.

Quando chegou na mesa, a empregada ainda não tinha terminado de organizar o café da manhã, fazendo-a regressar ao quarto e levar o café do marido, que completaria hoje, 81 anos. Entrou com uma Bandeja de prata que comprara no natal. Teve a idéia de fazer o que o marido sempre fazia quando era seu aniversário, mas não se saberá a reação do nobre senhor ao ver a esposa carregando um organizado café da manhã, pois estava morto sobre as cobertas.

Ao tentar, três vezes, acordar o marido, sentiu sua pele gelada e derrubou a bandeja, fazendo um estrondoso barulho e espalhando café e pedaços de xícara por todo o quarto. Ligou imediatamente para os filhos, sentou-se na cama e esvaiu-se em lágrimas, não há mais o que fazer, acabou para ele, mas sabia que para ela, continuaria, como sempre, dia após dia. Chorar era algo que não acontecia muito com a nobre senhora, embora tivesse uma tendência de ficar triste quando decepcionada, chorar não. Isso aconteceu uma vez, lembra-se claramente, que chorava no colégio e seu futuro esposo estendeu a mão e perguntou se havia algo com que pudesse ajudar, se precisava de companhia. No momento, achou que aquele garoto devia ser o cara mais ridículo que podia conhecer, atrapalhar a privacidade de uma pessoa em um momento de tristeza não é nem um pouco educado. Mas hoje, após muitos anos juntos, entendia que aquele garoto apenas queria ajudar, como sempre fazia com todos. Hoje estava morto, coisas da vida.

No fundo, ela tinha esperança que ele acordasse com um olhar confuso, olhasse para ela, estendesse sua mão e perguntasse o que foi, se ela estava bem, se precisava de ajuda com alguma coisa e assim infinitamente poderiam continuar juntos. Mas isso não aconteceu... e nem vai acontecer. Até porque, ele está morto, e agora ela estava sozinha, a vida continuaria sem ele, disso ela sabia bem, sempre soube. Mas arrependia-se de ter sido tão rude e tão vazia às vezes durante a adolescência de ambos, se soubesse naquela época o quão nobre e interessante aquele garoto era, se pudesse ter assistido menos TV, Menos amizades insignificativas, talvez pudesse ter conseguido enxergar melhor o potencial das outras pessoas, agora era tarde demais; se pudesse ao menos voltar no tempo e recuperar o tempo perdido, como se 40 anos já não fosse tempo suficiente.

Mas isso não vai acontecer. Porque Eu, criador e escritor dessa história acabei de matar o marido dessa senhora. Um senhor de 80 anos, bem casado com uma bela senhora, que tinha 2 filhos. E agora ? acabo de encerrar este ciclo, assim como encerro vários outros todos os dias, de fato, queria que ela terminasse sozinha e assim infinitamente aguardar o dia de sua morte para juntar-se ao seu amado e carismático marido, o que não acontecerá, já que estou encerrando essa história com um ponto final daqui a pouco em algumas linhas breves. Maldade minha ? as coisas um dia tem que acabar, mas aqui, controlo tempo e espaço, o mundo aqui escrito é meu e somente meu até quando resolver colocar um ponto, sim, um ponto, indicando então o final da história, a partir deste momento, já não me pertencerá mais, o futuro a Deus pertence e assim infinitamente...

Ambos ainda estão bem vivos, no passado.

Licença Creative Commons
E assim infinitamente... de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Agonia

Acordou com a sensação de que estava sendo observado, sentou-se na cama e viu de relance pequenos olhos vermelhos que pareciam o seguir. Foi quando ouviu um grito de pavor na sala vazia que seu coração disparou. Correu em direção a sala derrubando acidentalmente uma série de objetos que enfeitavam o caminho. Ao alcançar o cômodo, nada viu, mas a hostilidade do local podia ser sentida, uma presença aos poucos tomava conta de sua mente.

Abalado pelo medo, correu cegamente em direção a porta, girando desesperadamente a fria maçaneta, a porta estava trancada. A sensação de que algo tocava seu ombro arrepiou até mesmo seu último fio de cabelo. O jovem virou-se abruptamente a tempo de ver uma velha defunta arrastando-se em direção a cozinha, a velha de cabelos brancos produzia sons temerosos e arranhava o chão com suas unhas quebradas, cravava-as no chão e arrastava-se. Com os nervos a flor da pele, correu e saltou por cima do sofá, ignorando todos os vultos que tentavam o segurar.

Ao alcançar o quarto, procurou a chave da porta na escrivaninha, bagunçando todos os papéis. De repente, seus olhos encontraram-se com os misteriosos olhos vermelhos que a pouco o seguia, aparecendo a figura de uma garota jovem vestindo uma camisola branca, seus cabelos amarrados e seu olhar gentil transmitiu a segurança e trouxe a coragem que precisava para sobreviver. Vendo que não havia chave alguma, tentou usar o telefone para pedir ajuda, mas nenhuma ligação procedeu. Foi quando lembrou da porta dos fundos, localizada na área de serviço do local, lá a chave jamais havia sido retirada da fechadura.

Chegando na Cozinha, deparou-se com a velha defunta tentando ficar de pé, sem sucesso, gritava palavras indecifráveis e gemia de dor. A presença da velha o fez hesitar e pensar em desistir, trazendo a tona o pensamento que um dia também ficaria velho e debilitado, mas não morto. Isso o fez seguir em frente, esforçou-se para não ser visto e parou em frente a porta que levava a área de serviço, onde encontrava-se sua possível salvação. Sentiu uma mão gélida tocar-lhe o pescoço, virou-se timidamente, tremendo, sem idéia do que o esperava, imaginava a velha vomitando em si e em seguida rindo insanamente enquanto seu vômito ácido corroía sua pele e o fazia derreter.

Embora nada tenha visto ao se virar, encarou a porta enquanto uma maléfica forma sombria formava-se ali mesmo. Alguns segundos depois e já encontrava-se cercado por dezenas de sombras de olhos vermelhos e vultos indefinidos. Tomado pelo medo, gritou pavorosamente, até acordar com uma estranha sensação de que estava sendo observado. Correu em direção a sala, alcançando a porta ainda sem chave.

Olhou subitamente para a mesa e encontrou a chave sobre uma conta de telefone vencida, pegou-a e girou na fechadura, abrindo-a e sentindo a velha sensação de liberdade e segurança, o verdadeiro despertar de um pesadelo.

Licença Creative Commons
Agonia de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Divagações de Meia-noite

Escrevo sob força de uma promessa feita a uma jovem e bela dama, em uma noite onde caminhava sozinha pelas ruas; estava sentado em um banco quando minha bendita curiosidade obrigou-me a perguntar :

- O que a bela moça faz sozinha a essa hora da noite ? não sabes que é perigoso ?

Ligeiramente respondeu-me :

- É mesmo, mas devo perguntar-lhe o mesmo e partir, realmente já está tarde demais para caminhar.Intriguei-me com sua despreocupação, de certo era uma jovem destemida.
- Nem todo vagante é vadio, madame... conversemos ?

-Primeiro vosso nome e o que fazes para viver.-

-De fato, nome tive vários, creio que isso não seja tão importante assim, mas sou escritor e me chamo Wallace, escrevo para o jornal local.-respondi com tamanha sinceridade.

-Jamais li nada a respeito. Assim como vós, meu nome não é relevante, chame-me de Alegria.

Ao decorrer do tempo, a noite estendia-se a sua metade, conversamos a respeito de diversos e relevantes assuntos, tendo sempre em vista o aspecto filosófico da natureza e os dilemas sociais, para a época, raras mulheres possuíam tais idéias, realmente possuía a cabeça visando o futuro. Desde convicções religiosas, a obras e autores prediletos, dissertava como enxergava o mundo.

Quando a torre da catedral ali perto anunciou a meia-noite, com o som embriagante dos pesados sinos gigantes, em uma bela noite de lua cheia, sem nuvens, mas com poucas estrelas. O local era bem iluminado pelos candeeiros, mas a luz lunar trazia ainda mais iluminação, tornando-o deveras confortável. Devo relatar que poderia passar o resto da noite conversando, sou um homem ainda jovem, porém recluso e antipático, simpatizei com a moça e minha intuição provou que estava certo, era sábia, muito mais do que a maioria das jovens da cidade, que apenas pensavam em casamentos e eram entregues pelas mães aos nobres da região, como um prêmio a ser conquistado, uma imagem a ser mantida.

-Passou de minha hora, devo partir, meu dia será ocupado, várias pendências.- disse-me subitamente, rompendo o silêncio de minha meditação, esperando de minha parte, a despedida.

-Ainda é cedo... - repliquei com um argumento óbviamente inválido, mas transparecendo uma breve, mas verdadeira esperança de que Alegria mudasse de idéia e permanecesse por singelos 30 minutos, ao menos.

- A vida é linda apenas para alguns.- disse de maneira fria e desdenhosa, como se jogasse um argumento e esperasse que o decifrasse para então discutirmos.

- Creio que para todos a vida seja bela, mas de uma maneira única e que muitos não a enxergam, como nessas novas poesias, que apenas transmitem dor e sofrimento em função de um objeto de desejo aparentemente inatingível.

- Deves lembrar que pessoas morrem de fome todos os dias, para os famintos o mundo não é belo, de forma alguma.

- Mas quando conseguem algum alimento renovam suas forças e consequentemente conseguem uma razão para esperar o amanhã e lutar pela sobrevivência enquanto seus corpos resistirem. Entendo seu ponto e acredito que esteja coberta de razão.

- Obrigada, cavalheiro, mas agora realmente devo ir, não tente impedir minha partida, parte de mim quer discutir sobre tudo e aprender novas idéias, mas minha mente sabe que devo honrar meus compromissos e partir.

- Compreendo.. apenas prometa-me que voltará a esse recinto e que discutiremos mais sobre vossos ideais.

- Prometo.- disse, levantando-se e adentrando a escuridão, sem olhar para trás.

Ainda não tornei a vê-la, pouco tempo depois tive problemas de saúde que me obrigaram a mudar para uma região de clima tropical, segundo os melhores especialistas é a melhor maneira de agilizar o tratamento de uma doença que sequer venha a ter uma cura.

----------------------------------------------------------------------------------
"Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer."
- Carlos Drummond de Andrade



Licença Creative Commons
Divagações de Meia-noite de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Em R'lyeh - Parte 2



Hoje consegui reaver o caderno, com sucesso nas sessões e tomando meus remédios consigo fingir minha sanidade, pouco convincente talvez, pois ela já esgotou-se há anos. Meus leitores devem estar se perguntando como descobri tais fatos sobre a cidade mítica, como cheguei lá e sobre como cheguei nessa Casa de Loucos.

Pois bem, devo antes recordar que minha memória já não é a mesma, logo não tenho certeza de como fui parar em R'lyeh, mas me recordo bem do que aconteceu após a minha chegada, logo depois das alucinações (que infelizmente não cessaram, de modo algum), me senti na obrigação de aprofundar-me no assunto, pesquisar e descobrir de qualquer jeito sobre R'lyeh, Cthulhu e seus servos diabólicos.

Foi em Rhode Island que tomei conhecimento do Culto a Cthulhu, ainda sem saber o que aquela palavra significava, até descobrir que os meus sonhos malditos não passavam de obras criadas por Ele. Visões, alucinações, não sei diferenciar o que era real ou pura imaginação, frutos da mente exclusivamente preparados para o enlouquecimento da mesma. Basicamente, o Culto tinha um caráter bastante primitivo para os tempos modernos, não hesitavam em sacrificar pessoas para sua entidade e muito menos em pronunciar palavras assombrosas em tons amedrontadores que pareciam invadir sua mente e dominar seu corpo.

Foi quando decidi, ainda fragilizado, infiltrar-me na ceita, observando e estudando com os outros (que assim como eu, não eram dotados de uma sanidade aceitável), foi quando entendi que Cthulhu era mais do que um monstro submarino, mais do que um demônio que invadia meus sonhos todas as noites (assim como a da maioria dos outros cultistas). Cthulhu era uma entidade superior, sua "espécie" criou a vida na Terra e ele aguardava para quando acordasse, trouxesse seus irmãos de volta a vida, como um amigo fiel.

Caro leitor, tenho certeza de que tenha percebido que passei a cultuar, de fato, o Cthulhu; devo responder-lhes que sim, e tenho certeza de que quando despertar, a humanidade não durará bastante. No entanto, minha fidelidade a Cthulhu permaneceu intacta até o momento em que percebi que estava sobre uma espécie de feitiço, quando comentava com um prisioneiro, um cultista como eu, o quão magnífico e bondoso era o meu deus. O escravo parecia estar são, me contou que como ele, poderia ser o próximo a ser sacrificado, tal revelação abalou-me os nervos de tal modo que fugi, ainda em trajes de adoração, do recinto onde organizavam-se os sacrifícios.

Como vim parar no Hospício ? simplesmente contei toda a história na delegacia de polícia da cidade, onde riram e debocharam de minha cara. Espantei-me por tamanha incredibilidade e comecei a gritar os dizeres que aprendi com os sacerdotes. Pode-se presumir que fui enviado imediatamente para cá, onde passo minhas noites em claro geralmente sob o efeito de sedativos (que falham em me adormecer, tudo por causa dos malditos pesadelos e das vozes que apossam minha mente) e as tardes em terapia ocupacional, desenhando símbolos e imagens que consigo armazenar em meus pensamentos.

O universo é algo gigante, assim como o Cthulhu, em breve Ele despertará de seus sonhos e trará o inferno à Terra, de modo que os policiais terão se arrependido amargamente de terem duvidado de mim. Mas sei que alguém, além de minha pessoa, também conhece sobre os feitos de Cthulhu e sobre a existência de R'lyeh, de como tudo funciona, é uma pena de que nossa jornada não tenha se encontrado como pontos em um gráfico. Temo de que minha hora tenha chegado, Ele me aguarda com fúria inimaginável. Deus tenha piedade de minha alma, caso possa fazer algo contra maldita criatura, algo que duvido de coração. Dedico meus escritos à todas as pessoas que conheci em vida e desejo que jamais aprofundem-se no assunto, creiam que isso é tudo que possam saber, isto é, se alguém ler tal manuscrito, esqueçam de que existi, acreditem que isso não passa de uma obra de ficção, mas jamais esqueçam de que não se pode ter absoluta certeza sobre o que arrasta-se no fundo do oceano.

"Na casa em R'lyeh, Cthulhu, morto, aguarda sonhando".

Licença Creative Commons
Em R'lyeh- Parte 2 de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Rotina



Nasce às 5:30, o sol, pelo menos por aqui. É quando aquela suave brisa que percorre a manhã atravessa nossas janelas causando uma gostosa sensação de conforto e comodidade, é o ar frio, eu acho. Nesse instante talvez todo mundo esteja tomando café da manhã na mesa redonda na sala de jantar ou uma coisa rápida e apressada, quando o sono insiste mais durante a manhã e você acaba atrasando seu compromisso. A gente se reúne praticamente todos os dias, na mesma hora e ainda sob o domínio daquele sono e preguiça.

Sempre com a porta aberta, deixando entrar os raios de sol e nos preparando para o início de um novo dia, seja ele cansativo ou relaxado, ainda não sabemos o que nos aguarda, sempre esperando, às vezes ansiosamente.

Talvez já estejamos de volta às 12:50; 13:30 até, voltando a pé, de carro ou de ônibus... e a rotina continua. É, ainda tenho saudades de casa.

O sol nasce às 5:30, pelo menos por aqui.
Nasce às 5:30, o sol, pelo menos por lá...


Deus, como sinto pelos velhos tempos... mas assim que funciona, velhos tempos ficam para trás, enquanto o futuro é para onde devemos caminhar, se possível, não olhar para trás; pessoas vem e vão, amigos, amores, sabores. Mas você sempre vai guardar algo deles, algo que você aprendeu, isso se chama experiência. Por mais que sinta saudade, e que o passado tente te puxar, te fazer retornar, é preciso ser forte, o passado foi bom, mas passou, acabou, sumiu, não voltará. Enquanto no futuro, não se sabe o que vai acontecer, mas com certeza você conhecerá novas pessoas, adquirirá novas experiências e assim vai poder crescer.



Licença Creative Commons
Rotina de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Publicar postagem

Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Em R'lyeh




Começou quando estava perdido em algum lugar do vasto oceano pacífico, anos atrás, embora sinta que façam segundos. Foi quando a encontrei, faltam-me palavras para descrever a magnitude e a monstruosidade daquela majestosa cidade, agora em ruínas, mas ainda transparece o horror de éons passados. Pouco sei sobre a mesma, embora não compreenda como submergiu, como levantou-se das profundezas e alcançou novamente a superfície. Sou apenas um ex-marinheiro que estranhamente adentrou as ruínas de uma cidade com mais do que um passado; estive em R'lyeh, cidade que data éons de existência, onde habita e repousa o corpo morto do grande Cthulhu.

Peço sinceras desculpas, não tenho intenção de causar qualquer tipo de sensacionalismo com esse manuscrito, apenas transcrever para o papel todos os pensamentos que assombram minha mente desde então. Também me desculpo pela decepção que causarei, mas não; não cheguei a ver A Coisa, não permiti que a curiosidade me levasse a seu encontro, o enorme salão que vejo em meus sonhos, onde Ele repousa. Vi um portão de proporções extremas, onde seu desenho estava lá, coberto por uma massa viscosa verde, onde senti sua respiração e seu desejo de retomar o que lhe pertencia.

Naquele momento, o medo tomou posse de meu corpo e fugi aos tropeços, confuso com a estranha geometria e arquitetura monolítica do lugar, onde parecia não existir. Ao alcançar meu bote, já um pouco distante no mar, ousei lançar meu olhar uma última vez em direção a R'lyeh, foi o momento em que senti que parte da minha alma estaria presa lá para a eternidade, também acredito que meus pesadelos sejam causados por esse fútil ato de curiosidade. Um enorme, de propagação inexplicável, Urro, mais para uma um grito de fúria que tomou posse do local, fez tremer até mesmo as unhas dos pés.

Fui encontrado cerca de nove dias depois (perdão novamente, mas minha memória não é a mesma desde aquele dia, creio que as vezes perco a noção do tempo) pela tripulação do Capitão Hank Johnson (o qual terá minha eterna gratidão), ainda gritando em pleno pânico, palavras do que pareciam pertencer a um idioma desconhecido, em pesadelos tão terríveis em que hesito em relatar aqui; Pela última vez, desculpem-me pela decepção, mas tenho que devolver o caderno à enfermeira, o tempo acabou.


"Ph'nglui mglw' nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn."


-Em memória de H.P Lovecraft, por sua criatividade em criar "O Chamado De Cthulhu", este conto baseia-se em sua magnífica obra.-


Licença Creative Commons
Em R'lyeh de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Assassino de Ômega Springs






Entrando abruptamente no quarto, Targus Castell encontra uma pessoa banhada em sangue jazida na cama.O sujeito, Harry Goldman, assassinou cerca de 14 pessoas, mas agora encontra-se morto, um tiro na cabeça, uma arma ainda na mão; um suicídio óbvio. Castell sabia que a policia fora avisada e que provavelmente estava a caminho.

Tudo aconteceu de repende em uma tranquila (até então) tarde de segunda-feira. O detetive Targus Castell, um homem forte que já havia prestado 10 anos de trabalho como policial investigativo, fora chamado para capturar um serial killer que, na época, havia assassinado 4 garotas de mesmo porte físico. De acordo com os dados fornecidos a Targus, o modus operandi deste assassino era um tanto quanto simples, mas igualmente grotesco; Unhas e dentes arrancados, sempre encontrando marcas de estrangulamento e várias deformações no rosto, sem dúvidas era um sujeito violento e transtornado.

Harry Goldman era um banqueiro de sucesso, reputação invejável; após a triste morte de Nancy Smith, Harry não dormia tranquilamente. Nancy era uma bela enfermeira do único hospital da cidade que mantinha um romance fervoroso com Harry. Nancy fora encontrada de maneira deplorável em um beco na rua 15, Harry não consegue imaginar o sofrimento que essa garota passou naquela noite.

Goldman acreditava que estava sendo seguido há um certo tempo, não havia declarado isso a ninguém, era um sujeito de muitos amigos, mas não depositava sua confiança em ninguém; as autoridades do local nunca agiam de maneira satisfatória, o que levou Harry a agir por conta própria, mas cautelosamente.

Targus Castell jamais fora um detetive exemplar, sempre na reserva e preguiçoso, era respeitado devido a sua força e sua capacidade de persuadir, estava prestes a encerrar seus serviços como detetive e viver o resto de seus dias com prostitutas em Miami. Detestava Ômega Springs, desde o nome até seus medíocres habitantes, como todas as provas apontavam para uma pessoa, Goldman, que mantinha uma estreita relação com todas as vítimas, decidiu colocar um plano em ação que encerraria o caso, embora pudesse não resolver o crime (pelo menos receberia suas ''merecidas'' férias prolongadas).

Um melancólico domingo onde Goldman conseguira comprar a arma de um velho amigo chamado Barry Bitterfield, decidido a encontrar o assassino e encerrar isso de uma vez por todas, já que recebera um bilhete em sua casa sendo convidado a um espetáculo sangrento em uma casa abandonada na rua 16. Ômega Springs era uma cidade onde todas as ruas eram nomeadas por números, haviam 26 ruas, mas apartir da rua 23, as três ruas seguintes eram nomeadas com símbolos gregos alpha, onde situavam-se os hospitais, ômega, a prefeitura; e beta, a área industrial.

Castell entrara na casa às 6 horas da manhã com um cadáver encontrando um cadáver no quarto cujas características batiam com o método utilizado por Goldman, o assassino. Quando o mesmo entrou na velha mansão, sentindo aquele cheiro forte de sangue, seguiu as marcas até o quarto e encarou o detetive observando o corpo, concluindo quem era o verdadeiro assassino. Fora surpreendido pelo detetive Castell antes que pudesse sacar a arma comprada de Barry, sendo obrigado a se suicidar pela imposição persuasiva do bendito detetive.

Horas mais tarde, Targus Castell estaria abandonando de vez Ômega Springs, partindo para Miami, onde seria encontrado morto exatos 7 dias após sua partida da pacata cidade, fora encontrado dentro de uma lata de lixo, vítima de uma rajada de balas, por motivos desconhecidos.

Os assassinatos seguiram, pois de fato, Goldman não era assassino, a autópsia revelara que não haveria como Harry Goldman ter assassinado todas as pessoas, até mesmo porque ele possuía um álibi, Barry Bitterfield, que no ano seguinte fora identificado por uma jovem estudante de medicina que falhou em capturar.

Licença Creative Commons
O Assassino de Ômega Springs de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license m.ay be available at http://contosinside.blogspot.com

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Apartamento



Desceu bruscamente do táxi, ao entrar no prédio cumprimentou o simpático zelador enquanto um morador aproximava-se com o carro, com educação, desejou-lhe também um bom dia, enquanto o outro resmungou algo parecido com "obrigado" ou talvez algo diferente.
Ao subir a escadaria que dava acesso ao elevador (estava com um pouco de pressa), esbarrou justamente na síndica. A velha síndica o acompanhara provavelmente para cobrar a taxa extra do condomínio, sempre falando em um tom irônico, as necessidades do prédio.

O elevador era velho e sujo, apresentava defeitos frequentemente, o que chateava bastante os moradores dos 16 andares, a exemplo de crianças e adolescentes atrasados para a escola, advogados e médicos importantes que ali residiam, talvez fosse o maior motivo da cobrança de taxas extras, que também eram frequentes.

Era um prédio antigo, embora luxuoso, situado em um bairro nobre e seguro, sem muita movimentação. Dois apartamentos nos primeiros andares e a partir do sétimo, um por andar. De acordo com a Síndica, o prédio necessitava urgentemente de uma reestruturação, o que os moradores recusavam-se a acreditar.

Lentamente, a porta do elevador abria-se, agora no oitavo andar, já estava com a chave em mãos desde quando a síndica saiu, no sétimo andar. Em frente ao seu apartamento, pronto, mas ainda ansioso, girou a chave na fechadura e entrou de uma vez.

Se algum morador descobrisse o que acontecia durante o dia no oitavo andar, certamente manteria distância, seja do oitavo andar ou do prédio. Mas como ninguém o conhecia naquela merda e aparentemente, era um bom cristão, sem nenhum antecedente bizarro em seu passado; Graças a privacidade dos tempos modernos, ninguém conhece bem os seus vizinhos.

Licença Creative Commons
Apartamento de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/.

sábado, 7 de agosto de 2010

Selva de Concreto

- Conclusão de "Pela Floresta" -

Passaram-se anos, ou melhor, décadas. Sua pequena comunidade avançou de maneira extremamente rápida, sua floresta, seu rio, não mais o pertenciam. Todo aquele lugar ocupado por parentes e conhecidos, com o assassinato de seu primogênito- sim, o garoto mal havia completado 14 anos e fora assassinado brutalmente por um lenhador- decidiu reunir os moradores e punir o maldito assassino; todos concordaram e logo fora encontrado pendurado na velha árvore localizada no centro da comunidade. De certa forma, serviu como um aviso, crimes serão punidos - olho por olho, dente por dente - mas algo faltava, era a organização. Toda sociedade tem suas regras, pensou. Com ajuda de seus amigos mais confiáveis elaborou-se uma série de leis, entre elas, uma específica que garantia a ele, fundador da comunidade, poderes absolutos sobre a região.

Foi em uma manhã de outono que recebera visitantes, um povo bem vestido, utilizavam instrumentos de metal, coisa fina, pareciam ter vindo de muito longe e propunham uma aliança que prometia mudar tudo para melhor. Pois bem, proposta aceita, os forasteiros alojaram-se à margem do rio (não ficava muito longe da comunidade, no máximo 30 metros de distância) e começaram a construir, aquela pequena comunidade tornara-se um gigante império, com auxilio daquele povo distante, cuja verdadeira proposta não lhe havia sido revelada.

Naquela fria tarde, fora chamado em sua casa, dizendo ser urgente, correu para o rio e mostraram-lhe apenas o seu reflexo na água, seguida daquela segunda imagem que aparecia atrás de si, a principio estranhara, mas não demorou muito para virar-se e dar de cara com um homem de armadura, a sensação de algo o atravessando fez seus olhos encherem lágrimas, seguido de um silencioso grunhido, o mundo em sua volta escurecera, envolto em escuridão, sentiu que sua visão na floresta iria se concretizar, exatamente como vira em sua infância solitária; caiu de joelhos e experimentou o vazio da morte.

Sua família sofreu bastante com sua morte, claro que sentiriam sua falta, mas não foi isso que mais o abalou, foram obrigados a servir como escravos ao reino misterioso, e após várias gerações, não havia o menor resquício daquele ambiente; no lugar das cabanas feitas arduamente com madeira e pedra haviam enormes prédios feitos do mais sólido concreto e do mais belo vidro, um jovem rapaz trabalhava e residia em um pequeno cômodo no subsolo da mais alta construção, era um simples empregado cuja família, diziam, ter sido muito importante em um passado longínquo. Mas agora, nada era, nada seria.

Aquele jovem cuidava do prédio como se fosse sua casa, certamente morava ali, mas não lhe pertencia; seu patrão era o ser mais rico e poderoso do planeta, não fazia a mínima idéia do que acontecia na sala de reuniões, no último andar, nem jamais ousara espionar ou fazer algo do tipo, até o dia em que ordenaram-lhe a conversar com seu mestre, que tivera a bondade, se é que possa chamar de bondade, de oferecer aquele quarto no subsolo para que ficasse mais cômodo e mais próximo ao emprego. Seu salário era nulo, pois era o preço a se pagar pela moradia.

Naquele verão, sua vida mudaria drásticamente, quando juntou-se a um grupo de pessoas que prometiam mudar o mundo, viram em seu rosto carisma e determinação, além de ter acesso a informações privilegiadas (coisa secreta, se é que podia entender), naquele dia, fora descoberto roubando documentos confidenciais na mesma sala de reunião, foi perseguido até um canal, que no passado diziam ser um belo rio, estava encurralado, aquela luz seguida de uma rajada de balas penetravam seu corpo, a sensação de algo o atravessando fez com que seus olhos enchessem de lágrimas, caiu de joelhos, em um último e difícil suspiro, bastante doloroso, pegou os documentos e os lançou na água, como última ação. No dia seguinte fotos do ocorrido estampavam todos os folhetins secretos que circulavam entre os revolucionários.

De certa forma, morrera como herói, instigando toda a população a lutar por seu bem estar, contra a tirania e a detenção do capital, tornando-os miseráveis enquanto poucos usufruíam de fartura.

Na beira do rio, onde jazia o seu corpo, momentos após o fuzilamento, levantou-se sem dificuldade e viu que tudo aquilo sumira, estava em um bosque que lhe parecia um tanto quanto familiar, onde um estreito rio o cruzava, e em uma distância de mais ou menos 30 metros, via-se um jovem acenando, estava encostado em uma grande e bela árvore, dando-lhe boas vindas e despedindo-se da solidão.


- Fim -

Licença Creative Commons
Selva de Concreto de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Hippie Under Groove





Em uma noite chuvosa, encontrava-se sentado no centro da sala, todas as luzes apagadas com aquela velha música tocando. acendia uma vela e um cigarro; vestido de uma calça longa e a barba por fazer. pensava sobre sua infância e sobre o modo de como resolveu viver sua vida, sem conseguir distinguir o que era certo ou errado. Aquele País das Maravilhas que imaginava na adolescência ao ler os livros de Lewis Carrol não existia mesmo, não tinha motivação para seguir em frente, mas apenas para seguir o ritmo da música, lentamente ou rapidamente;

Passado um certo tempo, resolveu sair de casa e observar melhor as ruas, pegou o violão e partiu no silêncio da noite. Não haviam muitas pessoas naquela noite de Sábado, apenas alguns bebuns e outros drogados, mas foi quando viu aquele sujo bar com três homens que jaziam sobre as mesas que teve a maravilhosa idéia de se apresentar, deixou o medo de lado e subiu em um caixote que bolava pelo bar, tocou como jamais havia tocado, e cantou como se fosse o seu último dia em vida, em sua cabeça, a multidão o aplaudiu e rosas lhe foram atiradas, saiu de lá com o orgulho de um leão, sentado em seu harém.

Foi embora sem falar com a "platéia", com medo de pedirem autógrafos e de que o importunassem por muito tempo. Mas os três bêbados sequer ouviram o que foi tocado naquela noite de Sábado.

Licença Creative Commons
Hippie Under Groove de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Pelo Rio




Continuação de "Pela Floresta"

Passado algum tempo, a solidão havia tornado-se algo insuportável, todo aquele silêncio que era quebrado apenas pelo barulho da água causava uma enorme tristeza. Necessitava de companhia, mas vivia no planeta da solidão, apenas tinha a si. Decidiu viajar. Logo juntou seus acessórios e invenções e caminhou pela margem do rio com esperança de encontrar um semelhante ou alguma pista sobre sua origem. Sua experiência com a verdade não provou que nenhum semelhante habitava tal ambiente.

Logo, o inverno começou, já havia se distanciado da margem do rio e seguido em frente, rumo ao horizonte sem fim; o frio tornava-se a cada dia mais insuportável, sentia sua força se esvaindo e sabia que não resistiria muito tempo. Quando encontrou as cavernas, consequentemente encontrou uma criatura semelhante presa em um bloco de gelo na entrada de tal caverna, tal criatura despertou um interesse extremo, pois tratava-se de uma criatura de sexo oposto, a última vez que tinha visto algo parecido foi quando a verdade lhe foi revelada.

Ao início da primavera, todo aquele gelo derreteu-se, e consequentemente a criatura congelada, que não respondeu a nenhum tipo de comunicação, estava morta. Pela primeira vez conheceu a morte, seu rosto não movia, tampouco seu corpo, não conseguia parar de olhar para a pálida amiga.

Resolveu voltar, mas o caminho de volta para casa já não era mais certo, ao encontrar o rio, não sabia para que lado seguir, e resolveu montar seu novo lar por ali, mais solitário do que nunca. Percebia que o ambiente ao seu redor estava mudando, haviam peixes nas águas que antes eram vazias, e animais silvestres voando em torno das árvores. Perto de seu novo lar, havia um pequeno morro, cujo do topo, dava para ter uma boa vista da região; foi naquele dia que ele a encontrou, uma moça de olhos castanhos e lisos cabelos, cuja alegria contagiava a todo ambiente.

Juntaram-se e procriaram, povoando aquele planeta antes dominado pelas trevas. Sua família também se multiplicou e logo, havia uma população, onde cada um ajudava ao outro, vivendo em harmonia com a natureza, produziam o que precisavam e não havia egoísmo ou guerra, como na sua juventude havia previsto.

continua...


Creative Commons License
Pelo Rio de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pela Floresta


Adicionar imagem
Caminhando por uma densa floresta, encontrou uma Misteriosa passagem. Ao entrar acabou por enxergar a verdade. Caindo infinitamente, atravessando o mais negro dos abismos; de fato, a verdade é algo obscuro. Absorveu todos e quaisquer sentimentos existentes; o mundo perdeu cor, vivia em um filme em preto e branco no qual era protagonista e seu coadjuvante era a solidão. Uma luz irradiava a trilha onde assemelhava-se com uma mão estendida, iluminando as trevas.

Ao encontrar o fim do percurso, presenciou a história da humanidade, de modo rápido mas doloroso; guerras,sangue,morte, tudo derramado em prol de valores e desejos políticos, provando apenas que o homem é um animal que busca apenas o poder, a auto-satisfação. Nesse caminho, também encontrou a felicidade, a harmonia e consequentemente a paz.

Ao caminhar por mais algumas semanas, alcançou um belo riacho no centro da floresta; decidiu desistir de procurar por mais seres humanos, tinha medo de que fosse assassinado ou sofresse como as pessoas das visões de semanas atrás. Lá em seu riacho, o sol o banhava todos os dias, assim como as águas, havia paz, luz; mas do outro lado, solidão e trevas.



Creative Commons License
Pela Floresta de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.