quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Em R'lyeh - Parte 2



Hoje consegui reaver o caderno, com sucesso nas sessões e tomando meus remédios consigo fingir minha sanidade, pouco convincente talvez, pois ela já esgotou-se há anos. Meus leitores devem estar se perguntando como descobri tais fatos sobre a cidade mítica, como cheguei lá e sobre como cheguei nessa Casa de Loucos.

Pois bem, devo antes recordar que minha memória já não é a mesma, logo não tenho certeza de como fui parar em R'lyeh, mas me recordo bem do que aconteceu após a minha chegada, logo depois das alucinações (que infelizmente não cessaram, de modo algum), me senti na obrigação de aprofundar-me no assunto, pesquisar e descobrir de qualquer jeito sobre R'lyeh, Cthulhu e seus servos diabólicos.

Foi em Rhode Island que tomei conhecimento do Culto a Cthulhu, ainda sem saber o que aquela palavra significava, até descobrir que os meus sonhos malditos não passavam de obras criadas por Ele. Visões, alucinações, não sei diferenciar o que era real ou pura imaginação, frutos da mente exclusivamente preparados para o enlouquecimento da mesma. Basicamente, o Culto tinha um caráter bastante primitivo para os tempos modernos, não hesitavam em sacrificar pessoas para sua entidade e muito menos em pronunciar palavras assombrosas em tons amedrontadores que pareciam invadir sua mente e dominar seu corpo.

Foi quando decidi, ainda fragilizado, infiltrar-me na ceita, observando e estudando com os outros (que assim como eu, não eram dotados de uma sanidade aceitável), foi quando entendi que Cthulhu era mais do que um monstro submarino, mais do que um demônio que invadia meus sonhos todas as noites (assim como a da maioria dos outros cultistas). Cthulhu era uma entidade superior, sua "espécie" criou a vida na Terra e ele aguardava para quando acordasse, trouxesse seus irmãos de volta a vida, como um amigo fiel.

Caro leitor, tenho certeza de que tenha percebido que passei a cultuar, de fato, o Cthulhu; devo responder-lhes que sim, e tenho certeza de que quando despertar, a humanidade não durará bastante. No entanto, minha fidelidade a Cthulhu permaneceu intacta até o momento em que percebi que estava sobre uma espécie de feitiço, quando comentava com um prisioneiro, um cultista como eu, o quão magnífico e bondoso era o meu deus. O escravo parecia estar são, me contou que como ele, poderia ser o próximo a ser sacrificado, tal revelação abalou-me os nervos de tal modo que fugi, ainda em trajes de adoração, do recinto onde organizavam-se os sacrifícios.

Como vim parar no Hospício ? simplesmente contei toda a história na delegacia de polícia da cidade, onde riram e debocharam de minha cara. Espantei-me por tamanha incredibilidade e comecei a gritar os dizeres que aprendi com os sacerdotes. Pode-se presumir que fui enviado imediatamente para cá, onde passo minhas noites em claro geralmente sob o efeito de sedativos (que falham em me adormecer, tudo por causa dos malditos pesadelos e das vozes que apossam minha mente) e as tardes em terapia ocupacional, desenhando símbolos e imagens que consigo armazenar em meus pensamentos.

O universo é algo gigante, assim como o Cthulhu, em breve Ele despertará de seus sonhos e trará o inferno à Terra, de modo que os policiais terão se arrependido amargamente de terem duvidado de mim. Mas sei que alguém, além de minha pessoa, também conhece sobre os feitos de Cthulhu e sobre a existência de R'lyeh, de como tudo funciona, é uma pena de que nossa jornada não tenha se encontrado como pontos em um gráfico. Temo de que minha hora tenha chegado, Ele me aguarda com fúria inimaginável. Deus tenha piedade de minha alma, caso possa fazer algo contra maldita criatura, algo que duvido de coração. Dedico meus escritos à todas as pessoas que conheci em vida e desejo que jamais aprofundem-se no assunto, creiam que isso é tudo que possam saber, isto é, se alguém ler tal manuscrito, esqueçam de que existi, acreditem que isso não passa de uma obra de ficção, mas jamais esqueçam de que não se pode ter absoluta certeza sobre o que arrasta-se no fundo do oceano.

"Na casa em R'lyeh, Cthulhu, morto, aguarda sonhando".

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Em R'lyeh- Parte 2 de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported.
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