quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Agonia

Acordou com a sensação de que estava sendo observado, sentou-se na cama e viu de relance pequenos olhos vermelhos que pareciam o seguir. Foi quando ouviu um grito de pavor na sala vazia que seu coração disparou. Correu em direção a sala derrubando acidentalmente uma série de objetos que enfeitavam o caminho. Ao alcançar o cômodo, nada viu, mas a hostilidade do local podia ser sentida, uma presença aos poucos tomava conta de sua mente.

Abalado pelo medo, correu cegamente em direção a porta, girando desesperadamente a fria maçaneta, a porta estava trancada. A sensação de que algo tocava seu ombro arrepiou até mesmo seu último fio de cabelo. O jovem virou-se abruptamente a tempo de ver uma velha defunta arrastando-se em direção a cozinha, a velha de cabelos brancos produzia sons temerosos e arranhava o chão com suas unhas quebradas, cravava-as no chão e arrastava-se. Com os nervos a flor da pele, correu e saltou por cima do sofá, ignorando todos os vultos que tentavam o segurar.

Ao alcançar o quarto, procurou a chave da porta na escrivaninha, bagunçando todos os papéis. De repente, seus olhos encontraram-se com os misteriosos olhos vermelhos que a pouco o seguia, aparecendo a figura de uma garota jovem vestindo uma camisola branca, seus cabelos amarrados e seu olhar gentil transmitiu a segurança e trouxe a coragem que precisava para sobreviver. Vendo que não havia chave alguma, tentou usar o telefone para pedir ajuda, mas nenhuma ligação procedeu. Foi quando lembrou da porta dos fundos, localizada na área de serviço do local, lá a chave jamais havia sido retirada da fechadura.

Chegando na Cozinha, deparou-se com a velha defunta tentando ficar de pé, sem sucesso, gritava palavras indecifráveis e gemia de dor. A presença da velha o fez hesitar e pensar em desistir, trazendo a tona o pensamento que um dia também ficaria velho e debilitado, mas não morto. Isso o fez seguir em frente, esforçou-se para não ser visto e parou em frente a porta que levava a área de serviço, onde encontrava-se sua possível salvação. Sentiu uma mão gélida tocar-lhe o pescoço, virou-se timidamente, tremendo, sem idéia do que o esperava, imaginava a velha vomitando em si e em seguida rindo insanamente enquanto seu vômito ácido corroía sua pele e o fazia derreter.

Embora nada tenha visto ao se virar, encarou a porta enquanto uma maléfica forma sombria formava-se ali mesmo. Alguns segundos depois e já encontrava-se cercado por dezenas de sombras de olhos vermelhos e vultos indefinidos. Tomado pelo medo, gritou pavorosamente, até acordar com uma estranha sensação de que estava sendo observado. Correu em direção a sala, alcançando a porta ainda sem chave.

Olhou subitamente para a mesa e encontrou a chave sobre uma conta de telefone vencida, pegou-a e girou na fechadura, abrindo-a e sentindo a velha sensação de liberdade e segurança, o verdadeiro despertar de um pesadelo.

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