sábado, 7 de agosto de 2010

Selva de Concreto

- Conclusão de "Pela Floresta" -

Passaram-se anos, ou melhor, décadas. Sua pequena comunidade avançou de maneira extremamente rápida, sua floresta, seu rio, não mais o pertenciam. Todo aquele lugar ocupado por parentes e conhecidos, com o assassinato de seu primogênito- sim, o garoto mal havia completado 14 anos e fora assassinado brutalmente por um lenhador- decidiu reunir os moradores e punir o maldito assassino; todos concordaram e logo fora encontrado pendurado na velha árvore localizada no centro da comunidade. De certa forma, serviu como um aviso, crimes serão punidos - olho por olho, dente por dente - mas algo faltava, era a organização. Toda sociedade tem suas regras, pensou. Com ajuda de seus amigos mais confiáveis elaborou-se uma série de leis, entre elas, uma específica que garantia a ele, fundador da comunidade, poderes absolutos sobre a região.

Foi em uma manhã de outono que recebera visitantes, um povo bem vestido, utilizavam instrumentos de metal, coisa fina, pareciam ter vindo de muito longe e propunham uma aliança que prometia mudar tudo para melhor. Pois bem, proposta aceita, os forasteiros alojaram-se à margem do rio (não ficava muito longe da comunidade, no máximo 30 metros de distância) e começaram a construir, aquela pequena comunidade tornara-se um gigante império, com auxilio daquele povo distante, cuja verdadeira proposta não lhe havia sido revelada.

Naquela fria tarde, fora chamado em sua casa, dizendo ser urgente, correu para o rio e mostraram-lhe apenas o seu reflexo na água, seguida daquela segunda imagem que aparecia atrás de si, a principio estranhara, mas não demorou muito para virar-se e dar de cara com um homem de armadura, a sensação de algo o atravessando fez seus olhos encherem lágrimas, seguido de um silencioso grunhido, o mundo em sua volta escurecera, envolto em escuridão, sentiu que sua visão na floresta iria se concretizar, exatamente como vira em sua infância solitária; caiu de joelhos e experimentou o vazio da morte.

Sua família sofreu bastante com sua morte, claro que sentiriam sua falta, mas não foi isso que mais o abalou, foram obrigados a servir como escravos ao reino misterioso, e após várias gerações, não havia o menor resquício daquele ambiente; no lugar das cabanas feitas arduamente com madeira e pedra haviam enormes prédios feitos do mais sólido concreto e do mais belo vidro, um jovem rapaz trabalhava e residia em um pequeno cômodo no subsolo da mais alta construção, era um simples empregado cuja família, diziam, ter sido muito importante em um passado longínquo. Mas agora, nada era, nada seria.

Aquele jovem cuidava do prédio como se fosse sua casa, certamente morava ali, mas não lhe pertencia; seu patrão era o ser mais rico e poderoso do planeta, não fazia a mínima idéia do que acontecia na sala de reuniões, no último andar, nem jamais ousara espionar ou fazer algo do tipo, até o dia em que ordenaram-lhe a conversar com seu mestre, que tivera a bondade, se é que possa chamar de bondade, de oferecer aquele quarto no subsolo para que ficasse mais cômodo e mais próximo ao emprego. Seu salário era nulo, pois era o preço a se pagar pela moradia.

Naquele verão, sua vida mudaria drásticamente, quando juntou-se a um grupo de pessoas que prometiam mudar o mundo, viram em seu rosto carisma e determinação, além de ter acesso a informações privilegiadas (coisa secreta, se é que podia entender), naquele dia, fora descoberto roubando documentos confidenciais na mesma sala de reunião, foi perseguido até um canal, que no passado diziam ser um belo rio, estava encurralado, aquela luz seguida de uma rajada de balas penetravam seu corpo, a sensação de algo o atravessando fez com que seus olhos enchessem de lágrimas, caiu de joelhos, em um último e difícil suspiro, bastante doloroso, pegou os documentos e os lançou na água, como última ação. No dia seguinte fotos do ocorrido estampavam todos os folhetins secretos que circulavam entre os revolucionários.

De certa forma, morrera como herói, instigando toda a população a lutar por seu bem estar, contra a tirania e a detenção do capital, tornando-os miseráveis enquanto poucos usufruíam de fartura.

Na beira do rio, onde jazia o seu corpo, momentos após o fuzilamento, levantou-se sem dificuldade e viu que tudo aquilo sumira, estava em um bosque que lhe parecia um tanto quanto familiar, onde um estreito rio o cruzava, e em uma distância de mais ou menos 30 metros, via-se um jovem acenando, estava encostado em uma grande e bela árvore, dando-lhe boas vindas e despedindo-se da solidão.


- Fim -

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