quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vou-me Embora pra R'lyeh


Vou-me embora pra R'lyeh
Lá sou servo do Cthulhu
Lá tenho a sacerdotiza que eu quero
No pilar que escolherei



Vou-me embora pra R'lyeh
Vou-me embora pra R'lyeh
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive



E como farei ginástica
Andarei de barco
Montarei em peixe brabo
Subirei no templo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do oceano
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra R'lyeh



Em R'lyeh tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone telepático
Tem alcalóide à vontade
Tem escravas bonitas
Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou servo do Cthulhu —

Terei a sacerdotiza que eu quero
No pilar que escolherei




-Reescritura de Vou-me embora pra Passárgada - Manuel Bandeira- por Davi Abath
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Sobre Versos e a Liberdade Poética.


O que pensa a natureza
Quando te vê passar ?
Contempla tua beleza
Com vontade de te encontrar.

Seus olhos quando brilham
Ensinam as estrelas como se brilhar.
Tão radiante alegria,
Motiva os pássaros a cantar.

Ao sorrir, brotam flores
Nos mais vastos campos,
Mórbidos, sem cores.

Infinitos versos sem rima
encontram e alucinam
a salvação que anunciam
monstros gritam e se soltam
chacoalham e esnobam
tudo com desejo de me chamar.

Não vou, não fui, cá estou
em meio a liberdade mais um ponto sou
somos, fomos
inexistentes momentos que marcam a trajetória
sem volta
em volta
de nada.

Sobre versos e liberdade, criar, descriar
atualmente, não existem regras,
basta rimar.

Não há ritmo. Não há ritmo. Há uma pedra no meio do caminho.



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Fim

Início
















Meio
















Fim.


Enquanto ainda houver um pequeno traço de luz, haverá sombra. Enquanto houver trevas, estou seguro; ao mesmo tempo, acorrentado como um prometeu, aguardando diariamente a dor de ser devorado vivo, enquanto minhas entranhas regeneram-se lentamente e são destruídas rápidamente. Hoje, olhar para a frente é mais importante do que olhar para trás, isso hoje. Amanhã é diferente, me vejo em meio a um turbilhão de mudanças, um vórtex coberto de rostos e pessoas perdidas em tempo-espaço. Afinal, não há morte, não há tempo; apenas momentos. O fim não existe, mas existe, depende do meu ponto de vista.

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domingo, 24 de outubro de 2010

Evolução


A história que contarei agora aconteceu há alguns milênios.

O Planeta em que vivemos, era antes habitado por répteis (acho que você já ouviu falar dos dinossauros, sim, aqueles animais gigantes que produziam rugidos temerosos e foram extintos com a queda de um meteorito ou sei lá o que). O fato é que os dinossauros eram na verdade seres pensantes, pelo menos os que tem ligação com o répteis; eles eram uma enorme população e foram criados por seres que viveram há alguns milênios atrás também, vamos chamá-los aqui de deuses.

Os deuses criaram os dinossauros, assim como também nos criaram alguns milhões de anos depois da extinção jurássica. Esses seres soberanos, após a criação da Terra, sofreram algum contato com a radiação que o centro do planeta exala e desenvolveram certas habilidades. Desde manipular a matéria, ao que chamamos hoje de levitação e teletransporte; os deuses não morriam de forma natural, ou seja, não morriam com a velhice. Após o desenvolvimento da sociedade jurássica, os deuses ficaram abismados como as criaturas que criaram puderam evoluir tão rápido e já estavam se tornando uma ameaça, por causa das armas que desenvolveram e da população que formaram. Os deuses demoravam cerca de cem anos para reproduzirem, era um processo doloroso e lento, o que fazia com que eles evitassem a reprodução.

Os dinossauros governavam sobre uma espécie de império, mas seu imperador era controlado pelos deuses, que só pediam que fossem, de certa forma, venerados. Certo dia, um jovem dinossauro, decidiu enfrentar um deus e estimular os seus companheiros a lutar contra o sistema e elaborarem um governo própriamente deles, assim os dinossauros poderiam moldar o mundo a sua volta. Em um duelo intenso, nosso amigo dinossauro assassinou esse deus tirano, o que causou uma imensa comoção e os deuses entraram em guerra com os reptilianos (sim, era assim que chamavam-se os dinossauros). Nesse meio tempo, os deuses dizimaram toda a espécie jurássica e ficaram sozinhos no planeta (as plantas e animais não-pensantes os acompanhavam, claro, mas estes não podiam venerá-los). Em meio ao tédio, eles decidiram criar uma nova espécie racional, mas desta vez, a sua imagem e semelhança, chamariam-no de Homem.

Isso aconteceu muito tempo após a extinção dos dinossauros. Mas quando criado, o homem provou ser obediente, seu raciocinio demorou muito para desenvolver-se e logo alcançou uma população razoavel de sua comunidade, essa é a parte chata dessa história, daremos um avanço de 500~700 anos para escapar da mesmice.

Quando os homens organizaram-se em uma comunidade, eram milhares, não, bilhares amontoados na mesma região, onde tudo que ele tocava, destruia-se. Continuavam venerando os deuses e pela quantidade, era extremamente satisfatório. Quando surge um jovem homem revolucionário, a fim de separar o território para que o mundo em que viviam fosse mais organizado, decide então eliminar de fato os deuses. Comoveu uma boa parte dos homens, e em desvantagem, os deuses pereceram. Sim, amigos, nossa espécie eliminou a raça que nos criou, embora ainda hoje alguns sejam venerados, saibam que, por nós foram destruídos e por nós ressucitados, embora isso não venha ao caso.

Na atualidade, o homem encontrou seu substituto, os computadores. Seu corpo possui funções semelhantes ao funcionamento do corpo humano, ao que parece. Resta-nos esperar o chamado da evolução e enfim lidar com a dor da troca, da substituição. Falo isso porque hoje, temos que nos esconder das máquinas e os poucos que sobreviveram vivem miseravelmente, lutando por alimentos e apenas aguardando o momento onde a raça humana deixará de existir. Envio essa minha história para vocês, do passado, para compreenderem a mentira que vivem e quem sabe mudar nossa realidade, dependemos de vocês.

Anônimo 29/12/2193


* Essa história é puramente ficticia, o autor sequer concorda com as idéias citadas acima. É de fato fruto da imaginação do autor e responsabilidade da imaginação do leitor. Também não se importa com sua posição religiosa, crenças ou o que quiser chamar. *




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sábado, 23 de outubro de 2010

Refúgio de quem sonha





E então resolvi dormir. Não importa quanto tempo, sem me importar com ninguém, sem me lembrar de ninguém, deles, delas e tudo mais. Dormir além do tempo, deixar de vez esta realidade e transportar minha mente para onde sequer os sábios sabem ao certo, trocá-la por um lugar onde possa ter controle de tudo e todos. Talvez me encontre onde as fendas ocultas do tempo possam me levar, diferentes dimensões em meio a realidades paralelas, com ou sem você, nós, já não importa mais.

Um lugar onde uma pequena mudança causa uma reviravolta radical no meio, uma sensação traz consigo todas as outras, uma corrente inquebrável de lapsos incoerentes de razão. Se quiser, pode me acompanhar, não garanto ser o mesmo no lugar onde pretendo ir. Lá, alfa e ômega nada significam, reviverei minha infância enquanto vasculharei a minha memória, farei o que não fiz e no final de tudo acordarei completamente só, no escuro do meu quarto.

Paro dois minutos e penso em como retornar, como fazer para retornar a comodidade de um mundo simples, porém complexo e ficticio; despeço-me de lá, já com saudades, enquanto meus olhos adaptam-se a escuridão. Tenho a certeza de que um dia hei de retornar para esta realidade onde tu me esperas, acompanhado com a incerteza de que tudo, talvez seja diferente.

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Primeiras Impressões

Tudo começou quando a minha ex partiu, oito anos juntos e de repente, ela se foi. Agora cá estou com uma novinha, bem jovem mesmo; me sinto indiferente, nessa idade e com essa jovem comigo. De fato, o relacionamento andou rápido, com minha ex demorou cerca de três meses para acontecer pela primeira vez, após isso, repetia-se casualmente.

Em dois dias, estava eu diante dela, preparado para fazer o serviço, ainda indignado por ter acontecido assim, tão rapidamente. Lá estava ela, linda e aberta para mim, apenas para mim; pela primeira vez em sua vida - disso tenho certeza -. Toquei-lhe as partes sutilmente, recuando um pouco quando emitiu um estranho barulho. Garanto-lhe que fui cuidadoso, não fiz nada de errado, afinal, não era a primeira vez que o fazia.

Após o ocorrido, três dias depois fiz tudo novamente. Até que de repente, seu brilho extinguiu-se e sua luz interior apagou. Cinco dias, de fato, um relacionamento curto, essa é a tendência, produtos descartáveis mantém o ciclo econômico balanceado, alguns chamam de juventude, eu chamo de capitalismo. Passei oito anos com minha ex, em três meses, em média, era preciso trocar os cartuchos de tinta. Com essa nova impressora, porém, em três curtos dias esgotou-se toda e me deixou. Maldita modernidade.

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

E assim Infinitamente...

Abrem-se as portas do paraíso, o ciclo renova-se novamente e assim temos um novo morador. Um senhor, 80 anos, viveu uma vida politicamente correta, sem extravagâncias. Todos os dias levantava cedo, fazia suas orações e caminhava pela casa enquanto o café não estava pronto. Era casado há uns 40 anos com uma senhora que sempre fora vaidosa, jamais perdera elegância. Na juventude, ela tinha longos cabelos castanhos e era cobiçada por todos.

Já ele, nunca fora ninguém. Sempre calado, parecia estar sofrendo em silêncio, isso na juventude, claro. Em sua fase adulta realizou grandes feitos, ganhou muito dinheiro, construiu um império. Não era religioso, ninguém era... apenas algumas raras exceções importavam-se, mas a garota de cabelos castanhos e os belos olhos de ressaca importava-se. Em vida, não colecionou muitos amigos, mas os que teve valiam muito mais do que os muitos que tinham... em sua adolescência, convivia com a falha idéia de ser mais um desconhecido da turma empenhando-se para se dar bem e um dia, quem sabe sair da anônimidade. Enquanto ela, sua esposa, era cercada de amigos e amigas -que já não mantêm contato- e notas regulares, vivendo uma vida cômoda com direito a TV, cinema e festinhas.

Na sua maturidade, tinha uma vida tranquila, conseguia o que queria facilmente e assim infinitamente podia seguir o fluxo do passar dos anos enquanto contemplava o correr das águas do tempo. Até quando casou-se e formou uma família, um casal de filhos que hoje já são adultos. Conservou até hoje, dia de sua morte, as memórias mais marcantes e momentos que proporcionaram os dias mais felizes de sua vida. Se soubesse naquela época que casaria justamente com aquela garota, talvez as coisas não tenham sido como foram, não saberia o que fazer e assim infinitamente a vida seguiria outro fluxo sequer parecido com o que seguiu.

Pela manhã, ela levantou-se primeiro e lavou o rosto no banheiro, deixando seu marido dormir mais um pouco, pois apesar de não revelar, aparentava-se cansado nos últimos dias, embora não tivesse falado nada a respeito, ela o conhecia e sabia que desde os tempos em que foram colegas de sala, ele sempre costumava guardar os detalhes para si. Após enxugar o rosto, olhou rapidamente para o marido e saiu. Lembrando do quanto eram diferentes e de como não se conheceram melhor antes, acreditando que na época, ele era uma das pessoas mais estranhas de sua classe, ambos tinham diferentes modos de ver o mundo, ela jamais preocupara-se com o futuro enquanto ele temia o que o esperava.

Quando chegou na mesa, a empregada ainda não tinha terminado de organizar o café da manhã, fazendo-a regressar ao quarto e levar o café do marido, que completaria hoje, 81 anos. Entrou com uma Bandeja de prata que comprara no natal. Teve a idéia de fazer o que o marido sempre fazia quando era seu aniversário, mas não se saberá a reação do nobre senhor ao ver a esposa carregando um organizado café da manhã, pois estava morto sobre as cobertas.

Ao tentar, três vezes, acordar o marido, sentiu sua pele gelada e derrubou a bandeja, fazendo um estrondoso barulho e espalhando café e pedaços de xícara por todo o quarto. Ligou imediatamente para os filhos, sentou-se na cama e esvaiu-se em lágrimas, não há mais o que fazer, acabou para ele, mas sabia que para ela, continuaria, como sempre, dia após dia. Chorar era algo que não acontecia muito com a nobre senhora, embora tivesse uma tendência de ficar triste quando decepcionada, chorar não. Isso aconteceu uma vez, lembra-se claramente, que chorava no colégio e seu futuro esposo estendeu a mão e perguntou se havia algo com que pudesse ajudar, se precisava de companhia. No momento, achou que aquele garoto devia ser o cara mais ridículo que podia conhecer, atrapalhar a privacidade de uma pessoa em um momento de tristeza não é nem um pouco educado. Mas hoje, após muitos anos juntos, entendia que aquele garoto apenas queria ajudar, como sempre fazia com todos. Hoje estava morto, coisas da vida.

No fundo, ela tinha esperança que ele acordasse com um olhar confuso, olhasse para ela, estendesse sua mão e perguntasse o que foi, se ela estava bem, se precisava de ajuda com alguma coisa e assim infinitamente poderiam continuar juntos. Mas isso não aconteceu... e nem vai acontecer. Até porque, ele está morto, e agora ela estava sozinha, a vida continuaria sem ele, disso ela sabia bem, sempre soube. Mas arrependia-se de ter sido tão rude e tão vazia às vezes durante a adolescência de ambos, se soubesse naquela época o quão nobre e interessante aquele garoto era, se pudesse ter assistido menos TV, Menos amizades insignificativas, talvez pudesse ter conseguido enxergar melhor o potencial das outras pessoas, agora era tarde demais; se pudesse ao menos voltar no tempo e recuperar o tempo perdido, como se 40 anos já não fosse tempo suficiente.

Mas isso não vai acontecer. Porque Eu, criador e escritor dessa história acabei de matar o marido dessa senhora. Um senhor de 80 anos, bem casado com uma bela senhora, que tinha 2 filhos. E agora ? acabo de encerrar este ciclo, assim como encerro vários outros todos os dias, de fato, queria que ela terminasse sozinha e assim infinitamente aguardar o dia de sua morte para juntar-se ao seu amado e carismático marido, o que não acontecerá, já que estou encerrando essa história com um ponto final daqui a pouco em algumas linhas breves. Maldade minha ? as coisas um dia tem que acabar, mas aqui, controlo tempo e espaço, o mundo aqui escrito é meu e somente meu até quando resolver colocar um ponto, sim, um ponto, indicando então o final da história, a partir deste momento, já não me pertencerá mais, o futuro a Deus pertence e assim infinitamente...

Ambos ainda estão bem vivos, no passado.

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Agonia

Acordou com a sensação de que estava sendo observado, sentou-se na cama e viu de relance pequenos olhos vermelhos que pareciam o seguir. Foi quando ouviu um grito de pavor na sala vazia que seu coração disparou. Correu em direção a sala derrubando acidentalmente uma série de objetos que enfeitavam o caminho. Ao alcançar o cômodo, nada viu, mas a hostilidade do local podia ser sentida, uma presença aos poucos tomava conta de sua mente.

Abalado pelo medo, correu cegamente em direção a porta, girando desesperadamente a fria maçaneta, a porta estava trancada. A sensação de que algo tocava seu ombro arrepiou até mesmo seu último fio de cabelo. O jovem virou-se abruptamente a tempo de ver uma velha defunta arrastando-se em direção a cozinha, a velha de cabelos brancos produzia sons temerosos e arranhava o chão com suas unhas quebradas, cravava-as no chão e arrastava-se. Com os nervos a flor da pele, correu e saltou por cima do sofá, ignorando todos os vultos que tentavam o segurar.

Ao alcançar o quarto, procurou a chave da porta na escrivaninha, bagunçando todos os papéis. De repente, seus olhos encontraram-se com os misteriosos olhos vermelhos que a pouco o seguia, aparecendo a figura de uma garota jovem vestindo uma camisola branca, seus cabelos amarrados e seu olhar gentil transmitiu a segurança e trouxe a coragem que precisava para sobreviver. Vendo que não havia chave alguma, tentou usar o telefone para pedir ajuda, mas nenhuma ligação procedeu. Foi quando lembrou da porta dos fundos, localizada na área de serviço do local, lá a chave jamais havia sido retirada da fechadura.

Chegando na Cozinha, deparou-se com a velha defunta tentando ficar de pé, sem sucesso, gritava palavras indecifráveis e gemia de dor. A presença da velha o fez hesitar e pensar em desistir, trazendo a tona o pensamento que um dia também ficaria velho e debilitado, mas não morto. Isso o fez seguir em frente, esforçou-se para não ser visto e parou em frente a porta que levava a área de serviço, onde encontrava-se sua possível salvação. Sentiu uma mão gélida tocar-lhe o pescoço, virou-se timidamente, tremendo, sem idéia do que o esperava, imaginava a velha vomitando em si e em seguida rindo insanamente enquanto seu vômito ácido corroía sua pele e o fazia derreter.

Embora nada tenha visto ao se virar, encarou a porta enquanto uma maléfica forma sombria formava-se ali mesmo. Alguns segundos depois e já encontrava-se cercado por dezenas de sombras de olhos vermelhos e vultos indefinidos. Tomado pelo medo, gritou pavorosamente, até acordar com uma estranha sensação de que estava sendo observado. Correu em direção a sala, alcançando a porta ainda sem chave.

Olhou subitamente para a mesa e encontrou a chave sobre uma conta de telefone vencida, pegou-a e girou na fechadura, abrindo-a e sentindo a velha sensação de liberdade e segurança, o verdadeiro despertar de um pesadelo.

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