terça-feira, 31 de agosto de 2010

Rotina



Nasce às 5:30, o sol, pelo menos por aqui. É quando aquela suave brisa que percorre a manhã atravessa nossas janelas causando uma gostosa sensação de conforto e comodidade, é o ar frio, eu acho. Nesse instante talvez todo mundo esteja tomando café da manhã na mesa redonda na sala de jantar ou uma coisa rápida e apressada, quando o sono insiste mais durante a manhã e você acaba atrasando seu compromisso. A gente se reúne praticamente todos os dias, na mesma hora e ainda sob o domínio daquele sono e preguiça.

Sempre com a porta aberta, deixando entrar os raios de sol e nos preparando para o início de um novo dia, seja ele cansativo ou relaxado, ainda não sabemos o que nos aguarda, sempre esperando, às vezes ansiosamente.

Talvez já estejamos de volta às 12:50; 13:30 até, voltando a pé, de carro ou de ônibus... e a rotina continua. É, ainda tenho saudades de casa.

O sol nasce às 5:30, pelo menos por aqui.
Nasce às 5:30, o sol, pelo menos por lá...


Deus, como sinto pelos velhos tempos... mas assim que funciona, velhos tempos ficam para trás, enquanto o futuro é para onde devemos caminhar, se possível, não olhar para trás; pessoas vem e vão, amigos, amores, sabores. Mas você sempre vai guardar algo deles, algo que você aprendeu, isso se chama experiência. Por mais que sinta saudade, e que o passado tente te puxar, te fazer retornar, é preciso ser forte, o passado foi bom, mas passou, acabou, sumiu, não voltará. Enquanto no futuro, não se sabe o que vai acontecer, mas com certeza você conhecerá novas pessoas, adquirirá novas experiências e assim vai poder crescer.



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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Em R'lyeh




Começou quando estava perdido em algum lugar do vasto oceano pacífico, anos atrás, embora sinta que façam segundos. Foi quando a encontrei, faltam-me palavras para descrever a magnitude e a monstruosidade daquela majestosa cidade, agora em ruínas, mas ainda transparece o horror de éons passados. Pouco sei sobre a mesma, embora não compreenda como submergiu, como levantou-se das profundezas e alcançou novamente a superfície. Sou apenas um ex-marinheiro que estranhamente adentrou as ruínas de uma cidade com mais do que um passado; estive em R'lyeh, cidade que data éons de existência, onde habita e repousa o corpo morto do grande Cthulhu.

Peço sinceras desculpas, não tenho intenção de causar qualquer tipo de sensacionalismo com esse manuscrito, apenas transcrever para o papel todos os pensamentos que assombram minha mente desde então. Também me desculpo pela decepção que causarei, mas não; não cheguei a ver A Coisa, não permiti que a curiosidade me levasse a seu encontro, o enorme salão que vejo em meus sonhos, onde Ele repousa. Vi um portão de proporções extremas, onde seu desenho estava lá, coberto por uma massa viscosa verde, onde senti sua respiração e seu desejo de retomar o que lhe pertencia.

Naquele momento, o medo tomou posse de meu corpo e fugi aos tropeços, confuso com a estranha geometria e arquitetura monolítica do lugar, onde parecia não existir. Ao alcançar meu bote, já um pouco distante no mar, ousei lançar meu olhar uma última vez em direção a R'lyeh, foi o momento em que senti que parte da minha alma estaria presa lá para a eternidade, também acredito que meus pesadelos sejam causados por esse fútil ato de curiosidade. Um enorme, de propagação inexplicável, Urro, mais para uma um grito de fúria que tomou posse do local, fez tremer até mesmo as unhas dos pés.

Fui encontrado cerca de nove dias depois (perdão novamente, mas minha memória não é a mesma desde aquele dia, creio que as vezes perco a noção do tempo) pela tripulação do Capitão Hank Johnson (o qual terá minha eterna gratidão), ainda gritando em pleno pânico, palavras do que pareciam pertencer a um idioma desconhecido, em pesadelos tão terríveis em que hesito em relatar aqui; Pela última vez, desculpem-me pela decepção, mas tenho que devolver o caderno à enfermeira, o tempo acabou.


"Ph'nglui mglw' nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn."


-Em memória de H.P Lovecraft, por sua criatividade em criar "O Chamado De Cthulhu", este conto baseia-se em sua magnífica obra.-


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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Assassino de Ômega Springs






Entrando abruptamente no quarto, Targus Castell encontra uma pessoa banhada em sangue jazida na cama.O sujeito, Harry Goldman, assassinou cerca de 14 pessoas, mas agora encontra-se morto, um tiro na cabeça, uma arma ainda na mão; um suicídio óbvio. Castell sabia que a policia fora avisada e que provavelmente estava a caminho.

Tudo aconteceu de repende em uma tranquila (até então) tarde de segunda-feira. O detetive Targus Castell, um homem forte que já havia prestado 10 anos de trabalho como policial investigativo, fora chamado para capturar um serial killer que, na época, havia assassinado 4 garotas de mesmo porte físico. De acordo com os dados fornecidos a Targus, o modus operandi deste assassino era um tanto quanto simples, mas igualmente grotesco; Unhas e dentes arrancados, sempre encontrando marcas de estrangulamento e várias deformações no rosto, sem dúvidas era um sujeito violento e transtornado.

Harry Goldman era um banqueiro de sucesso, reputação invejável; após a triste morte de Nancy Smith, Harry não dormia tranquilamente. Nancy era uma bela enfermeira do único hospital da cidade que mantinha um romance fervoroso com Harry. Nancy fora encontrada de maneira deplorável em um beco na rua 15, Harry não consegue imaginar o sofrimento que essa garota passou naquela noite.

Goldman acreditava que estava sendo seguido há um certo tempo, não havia declarado isso a ninguém, era um sujeito de muitos amigos, mas não depositava sua confiança em ninguém; as autoridades do local nunca agiam de maneira satisfatória, o que levou Harry a agir por conta própria, mas cautelosamente.

Targus Castell jamais fora um detetive exemplar, sempre na reserva e preguiçoso, era respeitado devido a sua força e sua capacidade de persuadir, estava prestes a encerrar seus serviços como detetive e viver o resto de seus dias com prostitutas em Miami. Detestava Ômega Springs, desde o nome até seus medíocres habitantes, como todas as provas apontavam para uma pessoa, Goldman, que mantinha uma estreita relação com todas as vítimas, decidiu colocar um plano em ação que encerraria o caso, embora pudesse não resolver o crime (pelo menos receberia suas ''merecidas'' férias prolongadas).

Um melancólico domingo onde Goldman conseguira comprar a arma de um velho amigo chamado Barry Bitterfield, decidido a encontrar o assassino e encerrar isso de uma vez por todas, já que recebera um bilhete em sua casa sendo convidado a um espetáculo sangrento em uma casa abandonada na rua 16. Ômega Springs era uma cidade onde todas as ruas eram nomeadas por números, haviam 26 ruas, mas apartir da rua 23, as três ruas seguintes eram nomeadas com símbolos gregos alpha, onde situavam-se os hospitais, ômega, a prefeitura; e beta, a área industrial.

Castell entrara na casa às 6 horas da manhã com um cadáver encontrando um cadáver no quarto cujas características batiam com o método utilizado por Goldman, o assassino. Quando o mesmo entrou na velha mansão, sentindo aquele cheiro forte de sangue, seguiu as marcas até o quarto e encarou o detetive observando o corpo, concluindo quem era o verdadeiro assassino. Fora surpreendido pelo detetive Castell antes que pudesse sacar a arma comprada de Barry, sendo obrigado a se suicidar pela imposição persuasiva do bendito detetive.

Horas mais tarde, Targus Castell estaria abandonando de vez Ômega Springs, partindo para Miami, onde seria encontrado morto exatos 7 dias após sua partida da pacata cidade, fora encontrado dentro de uma lata de lixo, vítima de uma rajada de balas, por motivos desconhecidos.

Os assassinatos seguiram, pois de fato, Goldman não era assassino, a autópsia revelara que não haveria como Harry Goldman ter assassinado todas as pessoas, até mesmo porque ele possuía um álibi, Barry Bitterfield, que no ano seguinte fora identificado por uma jovem estudante de medicina que falhou em capturar.

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Apartamento



Desceu bruscamente do táxi, ao entrar no prédio cumprimentou o simpático zelador enquanto um morador aproximava-se com o carro, com educação, desejou-lhe também um bom dia, enquanto o outro resmungou algo parecido com "obrigado" ou talvez algo diferente.
Ao subir a escadaria que dava acesso ao elevador (estava com um pouco de pressa), esbarrou justamente na síndica. A velha síndica o acompanhara provavelmente para cobrar a taxa extra do condomínio, sempre falando em um tom irônico, as necessidades do prédio.

O elevador era velho e sujo, apresentava defeitos frequentemente, o que chateava bastante os moradores dos 16 andares, a exemplo de crianças e adolescentes atrasados para a escola, advogados e médicos importantes que ali residiam, talvez fosse o maior motivo da cobrança de taxas extras, que também eram frequentes.

Era um prédio antigo, embora luxuoso, situado em um bairro nobre e seguro, sem muita movimentação. Dois apartamentos nos primeiros andares e a partir do sétimo, um por andar. De acordo com a Síndica, o prédio necessitava urgentemente de uma reestruturação, o que os moradores recusavam-se a acreditar.

Lentamente, a porta do elevador abria-se, agora no oitavo andar, já estava com a chave em mãos desde quando a síndica saiu, no sétimo andar. Em frente ao seu apartamento, pronto, mas ainda ansioso, girou a chave na fechadura e entrou de uma vez.

Se algum morador descobrisse o que acontecia durante o dia no oitavo andar, certamente manteria distância, seja do oitavo andar ou do prédio. Mas como ninguém o conhecia naquela merda e aparentemente, era um bom cristão, sem nenhum antecedente bizarro em seu passado; Graças a privacidade dos tempos modernos, ninguém conhece bem os seus vizinhos.

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sábado, 7 de agosto de 2010

Selva de Concreto

- Conclusão de "Pela Floresta" -

Passaram-se anos, ou melhor, décadas. Sua pequena comunidade avançou de maneira extremamente rápida, sua floresta, seu rio, não mais o pertenciam. Todo aquele lugar ocupado por parentes e conhecidos, com o assassinato de seu primogênito- sim, o garoto mal havia completado 14 anos e fora assassinado brutalmente por um lenhador- decidiu reunir os moradores e punir o maldito assassino; todos concordaram e logo fora encontrado pendurado na velha árvore localizada no centro da comunidade. De certa forma, serviu como um aviso, crimes serão punidos - olho por olho, dente por dente - mas algo faltava, era a organização. Toda sociedade tem suas regras, pensou. Com ajuda de seus amigos mais confiáveis elaborou-se uma série de leis, entre elas, uma específica que garantia a ele, fundador da comunidade, poderes absolutos sobre a região.

Foi em uma manhã de outono que recebera visitantes, um povo bem vestido, utilizavam instrumentos de metal, coisa fina, pareciam ter vindo de muito longe e propunham uma aliança que prometia mudar tudo para melhor. Pois bem, proposta aceita, os forasteiros alojaram-se à margem do rio (não ficava muito longe da comunidade, no máximo 30 metros de distância) e começaram a construir, aquela pequena comunidade tornara-se um gigante império, com auxilio daquele povo distante, cuja verdadeira proposta não lhe havia sido revelada.

Naquela fria tarde, fora chamado em sua casa, dizendo ser urgente, correu para o rio e mostraram-lhe apenas o seu reflexo na água, seguida daquela segunda imagem que aparecia atrás de si, a principio estranhara, mas não demorou muito para virar-se e dar de cara com um homem de armadura, a sensação de algo o atravessando fez seus olhos encherem lágrimas, seguido de um silencioso grunhido, o mundo em sua volta escurecera, envolto em escuridão, sentiu que sua visão na floresta iria se concretizar, exatamente como vira em sua infância solitária; caiu de joelhos e experimentou o vazio da morte.

Sua família sofreu bastante com sua morte, claro que sentiriam sua falta, mas não foi isso que mais o abalou, foram obrigados a servir como escravos ao reino misterioso, e após várias gerações, não havia o menor resquício daquele ambiente; no lugar das cabanas feitas arduamente com madeira e pedra haviam enormes prédios feitos do mais sólido concreto e do mais belo vidro, um jovem rapaz trabalhava e residia em um pequeno cômodo no subsolo da mais alta construção, era um simples empregado cuja família, diziam, ter sido muito importante em um passado longínquo. Mas agora, nada era, nada seria.

Aquele jovem cuidava do prédio como se fosse sua casa, certamente morava ali, mas não lhe pertencia; seu patrão era o ser mais rico e poderoso do planeta, não fazia a mínima idéia do que acontecia na sala de reuniões, no último andar, nem jamais ousara espionar ou fazer algo do tipo, até o dia em que ordenaram-lhe a conversar com seu mestre, que tivera a bondade, se é que possa chamar de bondade, de oferecer aquele quarto no subsolo para que ficasse mais cômodo e mais próximo ao emprego. Seu salário era nulo, pois era o preço a se pagar pela moradia.

Naquele verão, sua vida mudaria drásticamente, quando juntou-se a um grupo de pessoas que prometiam mudar o mundo, viram em seu rosto carisma e determinação, além de ter acesso a informações privilegiadas (coisa secreta, se é que podia entender), naquele dia, fora descoberto roubando documentos confidenciais na mesma sala de reunião, foi perseguido até um canal, que no passado diziam ser um belo rio, estava encurralado, aquela luz seguida de uma rajada de balas penetravam seu corpo, a sensação de algo o atravessando fez com que seus olhos enchessem de lágrimas, caiu de joelhos, em um último e difícil suspiro, bastante doloroso, pegou os documentos e os lançou na água, como última ação. No dia seguinte fotos do ocorrido estampavam todos os folhetins secretos que circulavam entre os revolucionários.

De certa forma, morrera como herói, instigando toda a população a lutar por seu bem estar, contra a tirania e a detenção do capital, tornando-os miseráveis enquanto poucos usufruíam de fartura.

Na beira do rio, onde jazia o seu corpo, momentos após o fuzilamento, levantou-se sem dificuldade e viu que tudo aquilo sumira, estava em um bosque que lhe parecia um tanto quanto familiar, onde um estreito rio o cruzava, e em uma distância de mais ou menos 30 metros, via-se um jovem acenando, estava encostado em uma grande e bela árvore, dando-lhe boas vindas e despedindo-se da solidão.


- Fim -

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