segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Na escuridão da noite.

Era uma noite sombria na cidade. Caminhando pelas ruas vazias, em plena madrugada. procurava andar o mais rápido que pudesse, estava tomado pelo medo. Vi no jornal que assassinatos misteriosos estavam acontecendo em bairros próximos de onde me encontrava. Enquanto me certificava que as chaves de casa estavam no meu bolso, ouvi gritos e pedidos de socorro vindo de um beco próximo a mim. Parei para ouvir com maior atenção. Não havia absolutamente ninguém por perto. Tremendo, mas tomado pelo medo, cruzei a rua e olhei o beco.

Uma pessoa encontrava-se ali. Pelo menos, acredito que fosse uma pessoa, embora não parecesse ser humana. Olhava para mim e sorria. Minhas pernas congelaram e imediatamente pensei que estaria perdido. O vazio da noite aos poucos preenchia não só meu corpo, mas a minha alma também. A fraca luz de um certo poste piscava loucamente enquanto a pessoa que ali se encontrava caminhava ao meu encontro. Tomado por um medo absurdo, consegui correr. Corri sem olhar para trás, deixando a noite e a pessoa para trás.

O simples olhar daquilo me faz tremer até hoje, quando tenho que - - - - -

- Alô? É do departamento de Polícia?

- Sim. No momento só estamos atendendo emergências.

- É uma emergência, tem um garoto no corredor do meu apartamento, ele não pára de sorrir para mim... é... é... macabro. Policial? Está aí?

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Prisioneiro da Memória

Paro um minuto e percebo a rotação do mundo em minha volta. Olhando com atenção os detalhes que todos esses anos não me chamaram muita atenção. Enquanto isso, percebo que já não pertenço ali. Naquele dia, estava junto de alguns amigos, mas ao mesmo tempo, estava tão distante quanto qualquer um deles pudesse imaginar. Lentamente, ia me desligando de tudo, era como se fosse puxado contra a minha vontade para um lugar entre o real e o ficticio. De fato, tudo levou segundos, o suficiente para olhar uma última vez para minhas jovens mãos. Lisas, sem efeito do tempo.
Em poucos segundos, encontro-me olhando novamente para as minhas mãos envelhecidas, enquanto ouço um barulho irritante. Me pergunto o por quê de tudo aquilo. Afinal, eu estava curtindo minha adolescência minutos atrás. Agora cá estou, me sentindo velho e inútil, com uma dor de cabeça intensa seguindo cada movimento de meus olhos.
- E então, amigo, como está a cabeça ? - pergunta um homem que não obteve sua resposta.
Me levanto lentamente da câmara de onde estava deitado e pergunto :
- Para onde me trouxeram ? Quem são vocês ? - assim como o homem, não obtive a minha resposta.

Na vida, aprendemos basicamente tudo através da experiência. Com ela, aprendi que toda minha vida não passava de uma mentira. Um filme do passado que assistia por aquela câmera, revivendo minhas memórias através de minha mente. Memórias há muito esquecidas que jamais retornariam. Me pergunto até hoje se a guerra era tão importante quanto as memórias de um velho desesperado para viver.

Enquanto olhava pela janela, via os prédios em chamas e as pessoas sorrindo. Fomos ordenados no dia 13 de janeiro que todos deviam seguir para o teleportador que seria destruido em breve. Para isso, alguém teria que ficar. Um emissário do governo estava mais do que disposto de realizar o serviço. Quando o último civil foi devidamente teleportado, prestei um favor a mim mesmo e enviei o emissário. Destruí o teleporte pelo bem dos jovens que ali habitavam e segui ignorando os gritos inimigos na porta. Simplesmente caminhei em busca da câmara de memórias e a programei para onde estava.

No momento em que minha mente estava novamente sincronizada com meu jovem corpo, vi meus amigos sorrindo uma última vez, todos juntos me chamando. Seria a última vez que veria tais rostos familiares.