quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lua De Segunda-Feira

Era uma segunda-feira monótona. Geralmente, todas as segundas são monótonas, pelo menos na minha opinião, são sim. Não é o fato de ser apenas mais um dia na semana que a torna chata e cansativa, mas sim por marcar o início de uma semana de trabalho. Em minha cabeça, todas as segundas são chatas, embora essa segunda, em especial, foi deveras desagradável.

Para relatar meus acontecimentos diários, devo comentar brevemente sobre minha vida. Me chamo Thomas Rickett e fiz trinta e um anos há mais ou menos um mês, minha vida era completamente normal. Quando estudante, tive três namoradas até o terceiro ano, vivia cercado por amigos e amigas, saía para beber nos finais de semana e ainda mantinha minhas notas na média.

Nunca simpatizei com a segunda-feira. Simboliza - e ao mesmo tempo canaliza- toda a minha preguiça e desapego com a sociedade. De fato, finjo não existir às segundas. Para quebrar a rotina, tive uma segunda-feira diferente do padrão, me reuni com um velho amigo de minha idade, porém gordo e rico, chamo ele de Hurley (embora não seja o verdadeiro nome dele... ele se chama Bill, mas Hurley é nome de gordo). Conversamos sobre coisas comuns, sabe, aquelas conversas de amigos que não se vêem há muito tempo.

-Como vai no trabalho ?
-Já encontrou a garota perfeita ?

Falei de minha condição financeira - que estava ótima, por sinal -. Ganhava muito bem e trabalhava apenas três dias por semana. Algum tempo depois, Hurley estava indo embora em seu luxuoso carro. Eu resolvi ficar mais um pouco e conversar com uma moça simpática que estava em outra mesa.

Horas mais tarde, estava indo deixá-la em casa, tive que descer para tomar um "cafézinho", afinal, não faria uma desfeita de tomar um segundo café com uma moça tão simpática (e gostosa). Pensava que essa quebra de rotina, tornou a minha segunda-feira um dia menos chato, mas já anoitecia e quando cerca de três homens armados abordaram meu carro. O sequestro em si durou mais umas duas horas e meia, os bandidos foram gentis e simpáticos; recebi belos elogios, desde um "cala a boca, seu vagabundo ! " e até mesmo o doce "Saia da porra do carro, seu filho da puta !"

E lá estava eu, sozinho no meio do mundo, sem noção de direção, sem lenço nem documento em meio ao relento, com a boca sangrando de alguns socos, mas nada mais. Caminhei tranquilamente rumo ao desconhecido, amaldiçoando toda e qualquer segunda-feira que o mundo já concebeu. Enquanto caminhava, em meio ao nada, rezava para encontrar um telefone qualquer, só para fazer alguns telefonemas básicos, sabe, daqueles que você faz quando precisa de ajuda.

Minha jornada solitária levou-me ao encontro de um velho posto de gasolina. Me perguntava se já era terça, pois parecia que caminhava há horas, se não séculos. Esse posto de gasolina era bem comum mesmo, sabe ? daqueles onde você encontra um velho caipira chato atrás do balcão, que se acha o dono do mundo porque tem um par de óculos escuros, e advinha só ? em plena madrugada eles estão usando esses óculos sob a fraca luz de uma lâmpada fluorescente velha, como se fossem algum ator de hollywood ou algo do tipo.

Pedi gentilmente pelo telefone, e após relatar toda essa desagradável situação ao caipira, tive acesso a um. Primeiramente, liguei para a minha esposa. Sim, sou um cara casado e você deve estar me achando um filho da puta porque hoje mesmo, traí minha esposa umas duas vezes com uma mulher diferente. Não que eu me importe em esclarecer, mas meu casamento estava desabando há dois anos, ou seja, desde quando começou; e eu sentia necessidade de mulheres mais belas que a minha, não que ela fosse feia, de jeito nenhum, acredito que ela seja a mais bela dentre todas as outras mulheres com quem dormi ou sequer conheci, mas o gênio dela me irrita.

Ao telefone, fui sincero, admiti meus erros e falhas e após muito choro do outro lado da linha, ela disse que me procuraria. Eu era um sujeito rico e não sabia para onde levar a minha vida. A palavra sinceridade nunca combinou comigo, creio que não combina com ninguém. Visto que nós, homens, temos que mentir o tempo inteiro para conquistar garotas e consequentemente faturar umas ou outras, nesse lado da vida, sempre me dei bem.

Apesar de não fazer idéia de onde estava, fui encontrado por Júlia, minha querida esposa. Estava ao seu lado, em seu carro, ouvindo um suave sermão de minha amada esposa, enquanto ela parava e começava a soluçar e perguntar por que eu era assim, depois ela começava a chorar incansávelmente novamente. Naquele momento, me sentia o homem mais cobiçado do mundo, embora também me sentisse um monstro sem sentimentos que acaba de destruir o coração de uma pessoa tão gentil.

Após chegar em casa, acalmar minha amada esposa, tomar um banho quente e deitar-me ao seu lado, pus me a chorar, feito uma criançam esmo, pensando nos péssimos momentos que passei, não apenas nessa segunda, mas em todas as outras segundas que vivi e nas que iria viver. Segundas-Feira monótonas. Júlia olhou para mim e disse :

- Paciência, todos temos um dia ruim em nossas vidas.

Em troca de suas belas e simples (para não dizer clichês) palavras, nos abraçamos e eu adormeci. No dia seguinte, estava ocupado demais sendo um bom marido para ir trabalhar. Resumindo a história, repensei sobre minha vida e meus atos, e a partir da segunda-feira seguinte, mudei meu estilo de vida, chamo isso de ponto de amadurecimento, alguns precisam de um dia ruim para aprender que era uma pessoa ruim, e assim aconteceu comigo.


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