segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Seu Abismo

Contemplando o vazio de todos os dias, encontrou-se novamente sozinho olhando para cima. Que os deuses me perdoem mas não faço idéia do que observava, talvez apenas quisesse uma chance de subir e ver o que tem aqui em cima ou talvez apenas olhasse, inerte, o vazio.

A saudade dos velhos dias, onde fora alguém importante marcava ainda sua memória onde parte de si desejava aquela vida de volta enquanto outra desejava mais uma chance, sabia que tinha, apesar de não se sentir feliz. Mas a vida é assim, você finge que está feliz e as pessoas fingem acreditar, é um sentimento 'facilmente' simulado.

Enquanto estava parado, começou a chover, toda aquela água trazia lembranças engraçadas de quando falava sobre coisas engraçadas, hoje não fazia mais isso. Era uma questão de costume, pensava.

Passado algum tempo, a chuva tornou-se mais forte, obrigando-me a sair, pensativo sobre o que acontecia lá embaixo, no escuro do abismo.



Licença Creative Commons
Seu Abismo de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://contosinside.blogspot.com/2012/01/seu-abismo.html?spref=fb.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Na escuridão da noite.

Era uma noite sombria na cidade. Caminhando pelas ruas vazias, em plena madrugada. procurava andar o mais rápido que pudesse, estava tomado pelo medo. Vi no jornal que assassinatos misteriosos estavam acontecendo em bairros próximos de onde me encontrava. Enquanto me certificava que as chaves de casa estavam no meu bolso, ouvi gritos e pedidos de socorro vindo de um beco próximo a mim. Parei para ouvir com maior atenção. Não havia absolutamente ninguém por perto. Tremendo, mas tomado pelo medo, cruzei a rua e olhei o beco.

Uma pessoa encontrava-se ali. Pelo menos, acredito que fosse uma pessoa, embora não parecesse ser humana. Olhava para mim e sorria. Minhas pernas congelaram e imediatamente pensei que estaria perdido. O vazio da noite aos poucos preenchia não só meu corpo, mas a minha alma também. A fraca luz de um certo poste piscava loucamente enquanto a pessoa que ali se encontrava caminhava ao meu encontro. Tomado por um medo absurdo, consegui correr. Corri sem olhar para trás, deixando a noite e a pessoa para trás.

O simples olhar daquilo me faz tremer até hoje, quando tenho que - - - - -

- Alô? É do departamento de Polícia?

- Sim. No momento só estamos atendendo emergências.

- É uma emergência, tem um garoto no corredor do meu apartamento, ele não pára de sorrir para mim... é... é... macabro. Policial? Está aí?

- - - - - - - - - - - - - - - -

- - - -

- - - - - - - -- - - - - - --

Prisioneiro da Memória

Paro um minuto e percebo a rotação do mundo em minha volta. Olhando com atenção os detalhes que todos esses anos não me chamaram muita atenção. Enquanto isso, percebo que já não pertenço ali. Naquele dia, estava junto de alguns amigos, mas ao mesmo tempo, estava tão distante quanto qualquer um deles pudesse imaginar. Lentamente, ia me desligando de tudo, era como se fosse puxado contra a minha vontade para um lugar entre o real e o ficticio. De fato, tudo levou segundos, o suficiente para olhar uma última vez para minhas jovens mãos. Lisas, sem efeito do tempo.
Em poucos segundos, encontro-me olhando novamente para as minhas mãos envelhecidas, enquanto ouço um barulho irritante. Me pergunto o por quê de tudo aquilo. Afinal, eu estava curtindo minha adolescência minutos atrás. Agora cá estou, me sentindo velho e inútil, com uma dor de cabeça intensa seguindo cada movimento de meus olhos.
- E então, amigo, como está a cabeça ? - pergunta um homem que não obteve sua resposta.
Me levanto lentamente da câmara de onde estava deitado e pergunto :
- Para onde me trouxeram ? Quem são vocês ? - assim como o homem, não obtive a minha resposta.

Na vida, aprendemos basicamente tudo através da experiência. Com ela, aprendi que toda minha vida não passava de uma mentira. Um filme do passado que assistia por aquela câmera, revivendo minhas memórias através de minha mente. Memórias há muito esquecidas que jamais retornariam. Me pergunto até hoje se a guerra era tão importante quanto as memórias de um velho desesperado para viver.

Enquanto olhava pela janela, via os prédios em chamas e as pessoas sorrindo. Fomos ordenados no dia 13 de janeiro que todos deviam seguir para o teleportador que seria destruido em breve. Para isso, alguém teria que ficar. Um emissário do governo estava mais do que disposto de realizar o serviço. Quando o último civil foi devidamente teleportado, prestei um favor a mim mesmo e enviei o emissário. Destruí o teleporte pelo bem dos jovens que ali habitavam e segui ignorando os gritos inimigos na porta. Simplesmente caminhei em busca da câmara de memórias e a programei para onde estava.

No momento em que minha mente estava novamente sincronizada com meu jovem corpo, vi meus amigos sorrindo uma última vez, todos juntos me chamando. Seria a última vez que veria tais rostos familiares.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lua De Segunda-Feira

Era uma segunda-feira monótona. Geralmente, todas as segundas são monótonas, pelo menos na minha opinião, são sim. Não é o fato de ser apenas mais um dia na semana que a torna chata e cansativa, mas sim por marcar o início de uma semana de trabalho. Em minha cabeça, todas as segundas são chatas, embora essa segunda, em especial, foi deveras desagradável.

Para relatar meus acontecimentos diários, devo comentar brevemente sobre minha vida. Me chamo Thomas Rickett e fiz trinta e um anos há mais ou menos um mês, minha vida era completamente normal. Quando estudante, tive três namoradas até o terceiro ano, vivia cercado por amigos e amigas, saía para beber nos finais de semana e ainda mantinha minhas notas na média.

Nunca simpatizei com a segunda-feira. Simboliza - e ao mesmo tempo canaliza- toda a minha preguiça e desapego com a sociedade. De fato, finjo não existir às segundas. Para quebrar a rotina, tive uma segunda-feira diferente do padrão, me reuni com um velho amigo de minha idade, porém gordo e rico, chamo ele de Hurley (embora não seja o verdadeiro nome dele... ele se chama Bill, mas Hurley é nome de gordo). Conversamos sobre coisas comuns, sabe, aquelas conversas de amigos que não se vêem há muito tempo.

-Como vai no trabalho ?
-Já encontrou a garota perfeita ?

Falei de minha condição financeira - que estava ótima, por sinal -. Ganhava muito bem e trabalhava apenas três dias por semana. Algum tempo depois, Hurley estava indo embora em seu luxuoso carro. Eu resolvi ficar mais um pouco e conversar com uma moça simpática que estava em outra mesa.

Horas mais tarde, estava indo deixá-la em casa, tive que descer para tomar um "cafézinho", afinal, não faria uma desfeita de tomar um segundo café com uma moça tão simpática (e gostosa). Pensava que essa quebra de rotina, tornou a minha segunda-feira um dia menos chato, mas já anoitecia e quando cerca de três homens armados abordaram meu carro. O sequestro em si durou mais umas duas horas e meia, os bandidos foram gentis e simpáticos; recebi belos elogios, desde um "cala a boca, seu vagabundo ! " e até mesmo o doce "Saia da porra do carro, seu filho da puta !"

E lá estava eu, sozinho no meio do mundo, sem noção de direção, sem lenço nem documento em meio ao relento, com a boca sangrando de alguns socos, mas nada mais. Caminhei tranquilamente rumo ao desconhecido, amaldiçoando toda e qualquer segunda-feira que o mundo já concebeu. Enquanto caminhava, em meio ao nada, rezava para encontrar um telefone qualquer, só para fazer alguns telefonemas básicos, sabe, daqueles que você faz quando precisa de ajuda.

Minha jornada solitária levou-me ao encontro de um velho posto de gasolina. Me perguntava se já era terça, pois parecia que caminhava há horas, se não séculos. Esse posto de gasolina era bem comum mesmo, sabe ? daqueles onde você encontra um velho caipira chato atrás do balcão, que se acha o dono do mundo porque tem um par de óculos escuros, e advinha só ? em plena madrugada eles estão usando esses óculos sob a fraca luz de uma lâmpada fluorescente velha, como se fossem algum ator de hollywood ou algo do tipo.

Pedi gentilmente pelo telefone, e após relatar toda essa desagradável situação ao caipira, tive acesso a um. Primeiramente, liguei para a minha esposa. Sim, sou um cara casado e você deve estar me achando um filho da puta porque hoje mesmo, traí minha esposa umas duas vezes com uma mulher diferente. Não que eu me importe em esclarecer, mas meu casamento estava desabando há dois anos, ou seja, desde quando começou; e eu sentia necessidade de mulheres mais belas que a minha, não que ela fosse feia, de jeito nenhum, acredito que ela seja a mais bela dentre todas as outras mulheres com quem dormi ou sequer conheci, mas o gênio dela me irrita.

Ao telefone, fui sincero, admiti meus erros e falhas e após muito choro do outro lado da linha, ela disse que me procuraria. Eu era um sujeito rico e não sabia para onde levar a minha vida. A palavra sinceridade nunca combinou comigo, creio que não combina com ninguém. Visto que nós, homens, temos que mentir o tempo inteiro para conquistar garotas e consequentemente faturar umas ou outras, nesse lado da vida, sempre me dei bem.

Apesar de não fazer idéia de onde estava, fui encontrado por Júlia, minha querida esposa. Estava ao seu lado, em seu carro, ouvindo um suave sermão de minha amada esposa, enquanto ela parava e começava a soluçar e perguntar por que eu era assim, depois ela começava a chorar incansávelmente novamente. Naquele momento, me sentia o homem mais cobiçado do mundo, embora também me sentisse um monstro sem sentimentos que acaba de destruir o coração de uma pessoa tão gentil.

Após chegar em casa, acalmar minha amada esposa, tomar um banho quente e deitar-me ao seu lado, pus me a chorar, feito uma criançam esmo, pensando nos péssimos momentos que passei, não apenas nessa segunda, mas em todas as outras segundas que vivi e nas que iria viver. Segundas-Feira monótonas. Júlia olhou para mim e disse :

- Paciência, todos temos um dia ruim em nossas vidas.

Em troca de suas belas e simples (para não dizer clichês) palavras, nos abraçamos e eu adormeci. No dia seguinte, estava ocupado demais sendo um bom marido para ir trabalhar. Resumindo a história, repensei sobre minha vida e meus atos, e a partir da segunda-feira seguinte, mudei meu estilo de vida, chamo isso de ponto de amadurecimento, alguns precisam de um dia ruim para aprender que era uma pessoa ruim, e assim aconteceu comigo.


Licença Creative Commons
Lua De Segunda-Feira de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.






quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vou-me Embora pra R'lyeh


Vou-me embora pra R'lyeh
Lá sou servo do Cthulhu
Lá tenho a sacerdotiza que eu quero
No pilar que escolherei



Vou-me embora pra R'lyeh
Vou-me embora pra R'lyeh
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive



E como farei ginástica
Andarei de barco
Montarei em peixe brabo
Subirei no templo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do oceano
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra R'lyeh



Em R'lyeh tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone telepático
Tem alcalóide à vontade
Tem escravas bonitas
Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou servo do Cthulhu —

Terei a sacerdotiza que eu quero
No pilar que escolherei




-Reescritura de Vou-me embora pra Passárgada - Manuel Bandeira- por Davi Abath
Licença Creative Commons
Vou-me embora pra R'lyeh de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

Sobre Versos e a Liberdade Poética.


O que pensa a natureza
Quando te vê passar ?
Contempla tua beleza
Com vontade de te encontrar.

Seus olhos quando brilham
Ensinam as estrelas como se brilhar.
Tão radiante alegria,
Motiva os pássaros a cantar.

Ao sorrir, brotam flores
Nos mais vastos campos,
Mórbidos, sem cores.

Infinitos versos sem rima
encontram e alucinam
a salvação que anunciam
monstros gritam e se soltam
chacoalham e esnobam
tudo com desejo de me chamar.

Não vou, não fui, cá estou
em meio a liberdade mais um ponto sou
somos, fomos
inexistentes momentos que marcam a trajetória
sem volta
em volta
de nada.

Sobre versos e liberdade, criar, descriar
atualmente, não existem regras,
basta rimar.

Não há ritmo. Não há ritmo. Há uma pedra no meio do caminho.



Licença Creative Commons
Sobre Versos e Liberdade Poética de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.

Fim

Início
















Meio
















Fim.


Enquanto ainda houver um pequeno traço de luz, haverá sombra. Enquanto houver trevas, estou seguro; ao mesmo tempo, acorrentado como um prometeu, aguardando diariamente a dor de ser devorado vivo, enquanto minhas entranhas regeneram-se lentamente e são destruídas rápidamente. Hoje, olhar para a frente é mais importante do que olhar para trás, isso hoje. Amanhã é diferente, me vejo em meio a um turbilhão de mudanças, um vórtex coberto de rostos e pessoas perdidas em tempo-espaço. Afinal, não há morte, não há tempo; apenas momentos. O fim não existe, mas existe, depende do meu ponto de vista.

Licença Creative Commons
Fim de Davi Abath é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
Based on a work at contosinside.blogspot.com.